quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Segredo sob neve

Perdera a conta de quantas voltas dera em torno do quarteirão. Em cada uma delas seus olhos se dirigiam para a janela do terceiro andar na esperança de que as luzes se apagassem. Ansiava por um sinal de assentimento à sua fuga, de conivência com sua covardia. Mas aquele abajur opalinado que tantas vezes acendera, tateando no escuro, insistia em se manter aceso. O sinal era opaco, mas incontestável: a verdade precisava vir à luz.

8 comentários:

  1. Determinado, parou o carro em frente à entrada do pequeno hotel de apartamentos e, depressa, se pos a subir as escadas.

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  2. Sentia-se cansado. Ofegava. Já não era aquele adolescente atlético e simpático que atraía a atenção das garotas. No segundo andar se deu conta que apenas o cansaço não era causa suficiente para a taquicardia. Parou para descansar um pouco. As lâmpadas das escadas estavam apagadas e através da penumbra percebeu um corpo caído e que os seus sapatos estavam em uma poça de sangue.

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  3. com a visao de um possivel cadaver, seus musculos aquecidos contrairam-se repentinamente e junto com o susto veio a perda do equilibrio, os braços dançaram no ar em busca de apoio, mais sua sorte ja havia sido lançada. tombou de costas contra um lance de degraus solidos e sentiu uma dor aguda e excruciante nas costelas que se partiam com o choque, mais o pior ainda nao passará, com a inercia e a gravidade a seu favor em sentido sarcastico, rolou escadas abaixo em rotaçao desemgonçada, partindo seus ossos do braço esquerdo, seu nariz, seu maxilar, abrindo o supercilio e por fim se estirando de costas contra uma parede de canto qualquer inconsciente pelas sucessivas pancadas na cabeça...

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  4. O barulho estrondoso da queda despertou os vizinhos. Portas se entreabiram. Pessoas assustadas olhavam pelas frestas. Aos poucos deixaram seus apartamentos, vinham de todos os andares e se amontoavam em volta do corpo caído na escada. Estavam prestes a socorrê-lo quando ouviram um grito de pavor partindo do terceiro andar.

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  5. Era mais uma vítima, não fora a primeira muito menos seria a última daquela noite no Hotel Darbus.
    Um dos moradores resolveu descer e chamar ajuda na rua quando percebeu que todas as portas estavam trancadas.
    Quando, de repente todas as luzes se apagaram...

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  6. Apenas a luz do terceiro andar continuava acesa, como um dedo em riste aponta um criminoso.
    Ele, misteriosamente, clareava aquele pequeno espaço na tentativa de que o segredo viesse à tona.

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  7. Parou de escrever e releu o texto. Havia escrito muitos romances policiais em sua vida mas deste dependia sua aceitação nesta editora.

    Acendeu um cigarro e foi até a janela. Precisava dar continuidade, manter o suspense, despertar o interesse, ser inovador. Jogou-se na poltrona da sala olhando para o teto. Nada mais vinha a sua cabeça. Lembrou-se de antigos filmes com o Humphrey Bogart. Detestava Casablanca. Gostava de A rainha da Africa.

    Resolveu voltar para o hotel. Sentia-se tão quebrado como seu personagem. Olhou o teclado com letrinhas sorridentes e apertou retorno. Nova linha, agora em branco. A luz do terceiro andar apagara derrepente.

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  8. Deitado, observando a neve cair por trás da janela, refletia sobre o título do romance abortado. Sobrou neve e faltou segredo. Restava-lhe apenas sono sob neve.

    Fim.

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