sexta-feira, 31 de julho de 2009

Projeto Padaria: "Um café pra dois"


"Seu computador já pode ser desligado em segurança"

Respirou fundo. Bagunçou os revoltos cabelos castanhos, sorriu. Um sorriso involuntário. Um quase sorriso, por conta de um e-mail. Engraçado como de alguma forma aquelas palavras, vindas de uma desconhecida (possivelmente) pudessem o colocar num estado letárgico de divagação.

- Quer algo da padaria? - Perguntou a mãe. - Queria fugir, prolongar o momento, caminhar e criar uma imagem para as palavras.


Traz uma Coca se não for incomodar ahnnn e fecha a porta pra mim, please, vai com Deus Mami... Voltou à imersão total de seu ser naquele mundo eletrônico de onde não se podia evadir ou abandonar sem que a curiosidade o buscasse onde quer que estivesse. O cuco na sala bateu 2 horas.
Apertou novamente o botão de start leu aquela frase estranha, "o himem esta testando a memória estendida".
Seu sistema era moderno, mas colocara aquela frase da qual nunca esquecera a primeira vez que ligou um computador. Olhou para o teto enquanto aquele exercito de ícones iam surgindo em seu desktop.
O skype ligou automaticamente. Correu com o mouse e pos o status em invisível. Não tava pra muito papo. Mesmo assim alguém começou a chamar adivinhando que estava on-line. Fingiu um pouco de morto ate que resolveu atender.

- esta se escondendo do mundo?
Droga, não é ela... o bom do mundo virtual é isso... encheu, DELETE, ou no mínimo... OFF LINE"
Não pensou duas vezes, OFF LINE. Continuou a olhar para o teto, mas queria tanto que ela estivesse on-line...
Qualquer um que entrasse fazia seu coração bater mais forte. Fuçou alguma coisa num site qualquer da internet e ao achar aquilo que tanto procurava deu mais um sorriso de lado.
- Ela precisa saber disso!!!
Correu a abrir seu e-mail .

Nada, mesmo assim enviou a notícia na esperança de que aquele artigo, subjetivo, com um quê de semiótica a trouxesse para mais perto. Sem certeza...
Essa era a exata dimensão daquilo, uma incógnita.

Então, resolvi aceitar o mistério da sua distância, simples assim.
É o que ela quer:
Pois bem, que seja.
Foi quando, sem nenhuma esperança, decidi olhar pela última vez o e-mail
A mensagem dizia:
- Seus pãezinhos estão sendo downloadados para o seu computador
Quem? quem a não ser ela para uma atitude dessa, corri o mouse como uma criança corre atrás de doce.
Enganei-me. Afinal, era ela quem sempre mandava paenzinhos....mas desta vez não era. Pensei em mandar algo do tipo, seria uma surpresa, mas logo descartei esta possibilidade. Vivi tão centrado nela, em seus e-mails que não chegavam, nos pãezinhos...nas...
Sempre ela, ela, ela, que nem percebi a boa surpresa,
Agora chega! Olho pro teto sorrio e,


clic o teto se abre descortinando o céu de enorme azul e centenas de milhares de paezinhos começam a cair envolvendo minha mesa cobrindo o computador tampando meu olhos e saindo pela janela numa cascata panificia inundando as ruas e as avenidas. Era o inicio do projeto padaria.
E também o seu fim.


Kátia Mota- Cajadomatic- Feex Constantin-Sueli Aduan


terça-feira, 21 de julho de 2009

Projeto padaria.


"Seu computador já pode ser desligado em segurança"

Respirou fundo. Bagunçou os revoltos cabelos castanhos, sorriu. Um sorriso involuntário. Um quase sorriso, por conta de um email. Engraçado como de alguma forma aquelas palavras, vindas de uma desconhecida (possívelmente) pudessem o colocar num estado letárgico de divagação.

- Quer algo da padaria? - Perguntou a mãe. - Queria fugir, prolongar o momento, caminhar e criar uma imagem para as palavras.

Apenas uma porta e todo meu sorriso


Em cima da cadeira tinha uma camiseta branca jogada no encosto. No assento havia duas moedinhas, um maço de Hollywood menta quase vazio, um isqueiro Bic verde e uma paçoca bem amassada ainda dentro da embalagem onde se podia ler Amor. Embaixo da cadeira havia um par de tênis aparentando ser a coisa mais chulezuda do mundo onde enfiaram meias para talvez sufocar a ardência destes vapores insólitos.
No ar flutuavam as ondas de uma radio AM com uma dessas musicas que a gente escuta alguém assobiando na rua e que nos parecem tão distante de nossa realidade, que nos sentimos despertos para um outro universo.
Um universo às vezes bizarro, impar, inesperado.
No dia seguinte foi que reparei:

que a cadeira,a camiseta branca o isqueiro,as moedas..o maço...tudo ali me pertencia,a constatação de possuir um tênis chulezudo foi aliviada pela lembrança da tarde em que foram esquecidos numa tempestade, a música,o assobio continuaram distantes.
Somente a paçoca amassada dentro da..,não me pertencia. Memória amarga, do dia em que esse amor não foi consumido. A paçoca jamais seria comida, estava muito velha, era um souvenir de tempos mais sedutores quando ainda em mim morava a esperança. Mas de fato tudo me pertencia, até a cadeira.
Havia muito tempo que não entrava ali, a poeira cobria tudo inclusive a saudade.

Lembrei-me derrepente da gaveta. Ali haviam ficado uma parte de mim, e mesmo com lágrimas nos olhos, ainda pude ver lá escondidinho, no fundo da gaveta, aquele maldito alicate vermelho, com pontas finas, com um corte preciso. Que falta ele me fez.
Parada e estática a olhar aquela cadeira e aqueles insignificantes objetos em meu passado percebi o quanto eram doces como àquela paçoca que deixei de lado naquele chuvoso dia a seu lado, mas não foi derrepente. Nada é.
Aos poucos é que o valor de cada objeto, cada detalhe do passado foi aparecendo e, junto com ele o cansaço das coisas ditas normais.
Cansaço esse daquela rotina, que durante tantos anos foi a mesma chata de sempre, não me deixando ver que cada detalhe dessa vida e de outras, por menores que eles possam ser, cada um tem seu valor. Cada um é especial.

Lembrei de todos os detalhes que passavam na minha cabeça naquela hora, todos de que pudesse me lembrar naquele instante, mas de todos esses detalhes, um se destacou: aquela sua blusinha xadrez, com enormes botões, que até hoje aterrorizam meus pensamentos.

Bem que vc poderia voltar e me dizer adeus como se deve, sem magoas, sem gerar essas pontadas doloridas aqui no centro do meu peito onde moram os fragmentos que restaram do meu coração. Mas allas, cest la vie, procurarei outro porto, novos horizontes mesmo sabendo que apesar de tudo, sempre carregarei um pedaço do que sonhamos juntos e nunca aconteceu. Tava mesmo na hora de partir e, transformar essa magoa virar gente grande, abrir o meu coração, para infinitas possibilidades.
Quem sabe, o inesperado faça uma surpresa.


E assim sentado em meio aquela confusão mobiliaria, misto de lembranças, poeira e passado escuto passos no corredor. A porta se abre à medida que meu olhar se ergue lentamente.
Ante minha expectativa, sou obrigado a sorrir.

Cajodamatic - Maferar- Feex Constantin- Sueliaduan




domingo, 12 de julho de 2009

Sem titulo porenquanto numero 238b



Em cima da cadeira tinha uma camiseta branca jogada no encosto. No assento havia duas moedinhas, um maço de hollywood menta quase vazio, um isqueiro Bic verde e uma paçoca bem amassada ainda dentro da embalagem onde se podia ler Amor. Embaixo da cadeira havia um par de tenis aparentando ser a coisa mais chulezuda do mundo onde enfiaram meias para talvez sufocar a ardencia destes vapores insolitos.

No ar flutuavam as ondas de uma radio AM com uma dessas musicas que a gente escuta alguem assobiando na rua e que nos parecem tão distantes de nossa realidade, que nos sentimos despertos para um outro universo.
Um universo as vezes bizarro, impar, inesperado.

No dia seguinte foi que reparei:

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A Caixa

Varios autores, um mais tantã que o outro

Eu não podia imaginar que fosse possivel alguém me reconhecer com aquela roupa, aquela imensa caixa nas mãos que quase cobria meu rosto todo. Mas foi exatamente o que aconteceu. Ao escutar o chamado não olhei pra trás e nem podia mesmo, como explicar minha presença ali, a caixa e tudo mais... Mas explicar para que? Já tinha sido visto, já tinha sido reconhecido, o jeito era carregar aquela caixa com a naturalidade de quem segura um saco de pão.
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Com um certo temor segui, mas a curiosidade falou mais alto queria saber quem havia gritado meu nome, virei rapidamente espantado. Hesitei por alguns segundos em atender a voz insistente. Sentia sua aproximação até que me alcançou de perto os ouvidos. No ombro esquerdo o peso daquela mão me deteve. Assustado como uma criança pega em flagrante roubando um doce me virei. Uma senhora de tez rosada e afável disse-me:

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– Desculpa, senhor! Mas seus óculos caíram no chão. Susto passado (ato contínuo) peguei os óculos rapidamente, mas aquela imagem não me era estanha. Com voz nervosa, tentando controlar a respiração ofegante eu disse:
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– Inexplicável. Interessante. E entre um risinho e outro contemplei o totalmente inexplicável, tanto quanto essa caixa que levo comigo. A senhora arregalou os olhos e disse:

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– O que leva aí, assim tão absorto a ponto de perder os óculos e não sentir o embaçamento típico da falta das lentes? assim a queima roupa a pergunta desorientou-me, fiquei totalmente sem ação, sem voz. Não estava em meus planos abrir-me, contar à alguem meu segredo, era preciso sentir-me seguro. Uma vez que sem oculos enxergo tao bem como uma topeira, disfarcei um pouco e pigarreei. Nao que isso fosse fazer alguma diferença pois pigarreear so alivia nossa consciencia mas nao remenda nossas ações absurdas. Resolvi responder tão espontaneamente quanto possivel.
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– Levo uma caixa, mas por favor não me pergunte o que contem. Meu oculos embaçou ainda mais, mal conseguia enxergar por entre as gotinhas coladas no vidro. Sentia-me num fusca em dia de chuva. Ela insistiu:
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– Sei que não é de minha conta mas essa caixa gigantesca é um tanto suspeita.

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– Olhe, disse eu, aqui nesta caixa tem um urso chamado Zé que gosta de velhinhas simpaticas ao sugo. Ele é um tanto feroz porisso mantenho-o na caixa. Vou deixa-la aqui por um momento enquanto vou ao toilete pois urge a necessidade fisiologica que me impele, sem freios nem piedade. Não abra a caixa, ja volto. Entrei no salão e fiquei espiando para ver se ela ousaria espiar dentro do caixote. Quem diria aquela senhora!!! como a gente se engana, (tão sisuda) mas quem, quem conseguiria resistir a tamanha curiosidade? E ali do salão eu presenciei a cena, que por muito tempo iria me fazer rir. Que cena!
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Ao abrir a caixa, como supuz que iria fazer, ela soltou a tampa, deu um passo para traz e fez o sinal da cruz. Comecei a ter meu ataque de riso, pois era muito hilariante ve-la sob este espanto todo, eu havia avisado pra não olhar dentro da caixa.

Centenas de bolboletas sairam voando de dentro da caixa e a rodearam como um manto colorido em movimento. Ela tentava fechar a caixa mas elas continuavam a sair voando até não ficar mais nenhuma dentro. A senhora ficou desesperada, olhava para um lado e para o outro para ver se estava sendo observada. Claro que tava todo mundo olhando pra ela, estava parecendo um enorme pirulito de borboletas coloridas.

Derrepente meu riso foi se fechando. Se fechando. Meu coração foi lentamente descompassando, até que parou. Sim parou por milésimos de segundos, para o inexplicável vivído. Das costas da velhinha simpatica surgiram imensas asas prateadas. Olhei-a nos olhos em metamorfose e sorri.

Em sua nova leveza ela olhou para o céu e voou para as nuvens brancas.


sábado, 11 de julho de 2009

Os amigos o chamavam de Gummer


4 autores

O dia estava esplendido e da janela do ônibus podia ver nas ondas gordas, exatas, os tubos se formando perfeitos rolando centenas de metros até explodirem na areia alva e fina. Não pude resistir e apesar do paletó, gravata, a obvia farda de bancário dos pés à cabeça, desci do bus com o coração acelerado e, com imensa euforia, olhei para um lado, depois para o outro, com medo que alguém pudesse perceber estado tão alterado, afinal não é sempre que se tem uma atitude dessa, ainda mais...vestido daquela forma. Pensariam que era uma tentativa de suicídio, e foi exatamente o que ocorreu, numa fração de segundos uma multidão a minha volta. Apesar de constrangido gostei, afinal não é sempre...ainda mais..que uma equipe de reportagem da TV Globo se aproximou e o repórter me enfiou o microfone na cara. Perguntou sem qualquer preâmbulo, sequer sem me perguntar o nome:

– Foi o senhor que ligou informando que havia um hipopótamo surfando nesta praia?
– Sim, eu liguei, mas não foi exatamente pelo surf, que aprecio muito, mas pela falta de decoro desse animal, digo de sua companheira.
– Como assim? perguntou-me o repórter.
– Olhe o senhor mesmo, respondi. Não é uma escandalosa? Considero no mínimo uma indecência que uma girafa venha de topless a uma praia tão movimentada e principalmente neste horário da manhã, quando é freqüentada, sobretudo por babás, avós e jovens mamães que trazem as crianças para banharem-se ao sol.

Surpreendentemente, a equipe de reportagem da TV Globo já não tinha interesse por mim, nem pelo casal fenomenal que naquele instante trocava beijos lascivos. Acompanhada do séquito humano, a equipe vencia as ondas, primeiro correndo e, com água na cintura, nadando loucamente na direção de um cardume. E, eu não deixei por menos, segui junto, afinal não é sempre...ainda mais...quando se apresenta a oportunidade de ver peixes se afogando. Eu mesmo nunca sequer imaginara que havia peixes que não sabem nadar. Era um fato tão inusitado que ninguém notava que eu caminhava sobre o mar vestido a rigor. Todas as atenções se voltavam para o cardume, mais particularmente para um peixe que parecia ser o líder. Usava cartola, óculos escuros, relógio de algibeira e quando sorria cintilava um dente de ouro.

A uma pergunta do repórter, que eu não consegui ouvir porque o pobre coitado tinha nacos de sargaço entupindo-lhe a garganta, ele respondeu como se estivesse fazendo um discurso solene para a nação:

– Esta crise não é minha. É do cardume. Da praia eu podia ouvir a platéia dividida entre os que vaiavam e os que aplaudiam e uma voz feminina gritou:

– Como é o nome do peixe? As vaias foram diminuindo...diminuindo e, como num passe de mágica havia uma só voz em coro gritando, como era o nome do peixe. O peixe da frente do cardume que até então se preocupava exclusivamente em perseguir um plâncton suculento pôs a cabeça pra fora da água e disse:

– Meu nome é Gumercindo Ictius de Oliveira. Mas por que perguntam vcs estranhas criaturas secas com pelinhos no topo da cabeça e que respiram ar por orifícios no rosto?

– Porque perguntar é da nossa natureza, vai responde... vai... vai responde... ressp... onde... onde... res....sss ... E naquele dia esplêndido em que da janela avistei extasiado as gordas ondas, em que afrouxei o nó da gravata, dia o qual numa atitude deliciosamente impensada desci do ônibus. Naquele dia, minha pergunta ecoou mar afora, vi Gumercindo ir embora, fiquei feliz mesmo sem reposta, afinal não é sempre que se tem uma atitude dessas.

Kátia Mota, Fred Matos, Sergio Cajado, Sueli Aduan

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