Perdera a conta de quantas voltas dera em torno do quarteirão. Em cada uma delas seus olhos se dirigiam para a janela do terceiro andar na esperança de que as luzes se apagassem. Ansiava por um sinal de assentimento à sua fuga, de conivência com sua covardia. Mas aquele abajur opalinado que tantas vezes acendera, tateando no escuro, insistia em se manter aceso. O sinal era opaco, mas incontestável: a verdade precisava vir à luz.
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
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Determinado, parou o carro em frente à entrada do pequeno hotel de apartamentos e, depressa, se pos a subir as escadas.
ResponderExcluirSentia-se cansado. Ofegava. Já não era aquele adolescente atlético e simpático que atraía a atenção das garotas. No segundo andar se deu conta que apenas o cansaço não era causa suficiente para a taquicardia. Parou para descansar um pouco. As lâmpadas das escadas estavam apagadas e através da penumbra percebeu um corpo caído e que os seus sapatos estavam em uma poça de sangue.
ResponderExcluircom a visao de um possivel cadaver, seus musculos aquecidos contrairam-se repentinamente e junto com o susto veio a perda do equilibrio, os braços dançaram no ar em busca de apoio, mais sua sorte ja havia sido lançada. tombou de costas contra um lance de degraus solidos e sentiu uma dor aguda e excruciante nas costelas que se partiam com o choque, mais o pior ainda nao passará, com a inercia e a gravidade a seu favor em sentido sarcastico, rolou escadas abaixo em rotaçao desemgonçada, partindo seus ossos do braço esquerdo, seu nariz, seu maxilar, abrindo o supercilio e por fim se estirando de costas contra uma parede de canto qualquer inconsciente pelas sucessivas pancadas na cabeça...
ResponderExcluirO barulho estrondoso da queda despertou os vizinhos. Portas se entreabiram. Pessoas assustadas olhavam pelas frestas. Aos poucos deixaram seus apartamentos, vinham de todos os andares e se amontoavam em volta do corpo caído na escada. Estavam prestes a socorrê-lo quando ouviram um grito de pavor partindo do terceiro andar.
ResponderExcluirEra mais uma vítima, não fora a primeira muito menos seria a última daquela noite no Hotel Darbus.
ResponderExcluirUm dos moradores resolveu descer e chamar ajuda na rua quando percebeu que todas as portas estavam trancadas.
Quando, de repente todas as luzes se apagaram...
Apenas a luz do terceiro andar continuava acesa, como um dedo em riste aponta um criminoso.
ResponderExcluirEle, misteriosamente, clareava aquele pequeno espaço na tentativa de que o segredo viesse à tona.
Parou de escrever e releu o texto. Havia escrito muitos romances policiais em sua vida mas deste dependia sua aceitação nesta editora.
ResponderExcluirAcendeu um cigarro e foi até a janela. Precisava dar continuidade, manter o suspense, despertar o interesse, ser inovador. Jogou-se na poltrona da sala olhando para o teto. Nada mais vinha a sua cabeça. Lembrou-se de antigos filmes com o Humphrey Bogart. Detestava Casablanca. Gostava de A rainha da Africa.
Resolveu voltar para o hotel. Sentia-se tão quebrado como seu personagem. Olhou o teclado com letrinhas sorridentes e apertou retorno. Nova linha, agora em branco. A luz do terceiro andar apagara derrepente.
Deitado, observando a neve cair por trás da janela, refletia sobre o título do romance abortado. Sobrou neve e faltou segredo. Restava-lhe apenas sono sob neve.
ResponderExcluirFim.