quinta-feira, 26 de março de 2009

quinta-feira, 12 de março de 2009

Sobre a Mesa



Aros de oculos, rugas, lenços de papel, terno escuro, cachimbo, cadeira de balanço, jornal. Poeira suavemente flutuante no ar sendo iluminada pela luz do sol, na penumbra. Silencio. Silencio gelado de igreja, silencio com som de madeira, silencio cortado pelo tiquetaquear vagaroso do cuco na sala de jantar. Cilios. Olhos.Sobrancelha. Enfeites de natal. Chocolate no ar. Sino da igreja. Longe. Galo cantando, longe, barulho de agua, longe, fumaça, nuvem, lua, sol.

Nunca poderia pensar. Não nasceu para pensar. Não nasceu. Foi construido.
Movimentava-se. Parava. Nunca morreria mas poderia ainda ser desativado.

Tralhas, porcarias, babiloques, percevejos, clips, filmes velhos, slides, selos, dados, cortador de unha, parafusos, bitucas, cds, comprimidos, pilhas, camisinhas, gameboy, estetoscopio, latinhas, livros, caixinhas, compasso, walkman, colher, mapas, batata frita, canivete, globo, notas fiscais, perfume, lanterna, controle remoto, despertador. A gaveta fecha fora fica um barbante.

Uma aranha andava por sua perna lentamente, olhou de novo e viu uma sombra, olhou mais de perto e viu que sua perna estava suja de carvão, examinou mais ainda e percebeu que aquela coisa escura em sua perna era um hematoma.

Ponta da cama, porta do carro, pia, banco da praça, vassoura, cortador de grama, balança, guidon da bicicleta, cotovelo, arvore caida, frande pedra no parque, cerca do vizinho, lata de lixo, martelo, briga.

As pessoas se parecem as vezes com edificios. Grandes, pequenos, ricos, humildes, solidos, frageis, grandiosos, fora de moda, modernos, desejaveis, insuportaveis, misteriosos, pateticos, imponentes, frios, elegantes, charmosos, desengonçados, magicos, curiosos, malditos, bonitos, feios, altos, baixos, imundos, limpos, isolados, alegres, iluminados.
Existem ainda pessoas confortaveis ou espaçosas, edificios nervosos ou tristes.

A medida queque ia envelhecendo, não deixava de manter aquele ar retrô e aquela aparencia nobre que só o tempo confere. Não poderia no entanto mais estar ali, naquele mesmo lugar, onde tudo era moderno. Sua presença anacrônica incitava inquietação.

Trabalhou 57 anos naquele predio, agora os dois iriam desaparecer. Ali seria construido um shopping center com muitos funcionarios novos e temporarios.

Foram quase 1900 anos depois de Cristo que descobrimos o conforto. A luz eletrica é o maior bem tecnologico da humanidade, a mais importante descoberta depois do fogo. A luz eletrica dá independencia divina e prepara a humanidade para uma incrivel jornada. Os primeiros passos cosmicos sob suas proprias pernas. A humanidade sai do primario e entra para o ginasio.

sábado, 7 de março de 2009

O esquecimento dos homens





Sou laranja como uma mixirica, macio como uma almofada, sou mulher, ex-masculino, encolhido em posição fetal, inerte em meu odor de esquecimento, tenho gosto de vinho bom daqueles que se cheira a rolha. Sou odiado, me atiram depois de usar-me, consumir-me como se fosse um objeto sem valor. E fico ali, esperando ser varrido para o nada.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sobre o oceano e outras coisas



Do barco que afundara só restara um escaler, um pequeno bote de madeira com remos e provisões para alguns dias. Nada se via no horizonte exceto a imensidão do oceano.

Os dois ocupantes da pequena embarcação tinham origens diferentes porem dominavam uma lingua em comum o que permitiu que pudessem ponderar sobre a inusitada situação em que se encontravam.