terça-feira, 30 de março de 2010

Jaime Córdoba: " Em busca do som e do silêncio”



“Isolados experimentalmente de todo ruído externo,
escutamos no mínimo o som grave da nossa pulsação
sanguínea e o agudo do nosso sistema nervoso”.
John Cage

Era um sujeito de poucas palavras, desses que vez ou outra aparecem por aqui e só nos cabe o silêncio um impecável atendimento. Não posso dizer que não ficava intrigada toda vez que o via descendo as Era um sujeito de poucas palavras, desses que vez ou outra aparecem por aqui e só nos cabe escadas. Arrastava um pouco a perna o que aumentava a áurea de mistério que envolvia sua vida, além da minha própria desconfiança. E, a bem da verdade, a desconfiança não era só minha, não. De hábitos estranhos saía de manhãzinha levando uma pequena maleta preta e só retornava a noite. Exatamente no momento em que nosso hóspede chegava eu sempre me encontrava sozinha na portaria.
Foi quando numa dessas noites e com um céu estranhamente estrelado, a lua indo alto, que percebi: — não voltou com a maleta, mas ele também percebeu o meu espanto.

Veio em minha direção e disse num só fôlego:
- Bondosa senhora, perdoe minha entrada assim sem o apresentar-se natural de pessoas que hão de se conhecer, mas não o fazem por timidez ou falta de tempo. Noto seu espanto ao ver-me chegar sem minha maleta que parece ser parte de minha identidade. Desta maneira gostaria de aproveitar a ocasião e me apresentar, Jaime Córdoba a seu inteiro dispor.
Baqueada pelo inesperado colóquio balbuciei meu nome meio sem entender.
- Ola, sou a Sueli.
- Dona Sueli, desculpe o mau jeito, essa abrupta introdução de minha pessoa nos recônditos de seus pensamentos, é um prazer conhece-la. Gostaria que pudesse lhe confessar que há muito havia notado sua presença indagativa que imagino ter a ver com minha maleta, um tanto surrada, mas de inestimável utilidade para minha profissão, mas o fato é que perdi a tal maleta e gostaria de saber se a senhora não a teria visto.

Diante tanta polidez reconheci meu falso julgamento a respeito do pobre homem que me parecia correto e honesto apesar de coxo e soturno.
- Não vi, disse eu, talvez o senhor tenha deixado em seu trabalho, seria possível?
- Não, não seria, disse ele, meu trabalho não permite que tenha um lugar fixo.

Já me mordendo de curiosidade, quase pergunto que trabalho era esse, mas ele se adiantou.
- Sabe, sou técnico de som, e trabalho para uma companhia de cinema. Busco sons para posterior sonoplastia e dentro da maleta está uma Nagra de 40.000 dólares que uso para coletar sons deste mundo.
- Entendo sua preocupação, disse eu, especialmente hoje numa noite em que as estrelas estão tão lindas que parecem sussurrar uma canção.

Ele deu um passo para trás e disse:
- Em noites assim, por incrível que pareça, paira um imenso silêncio, nas ruas, nas cidades, no mundo. Como se as estrelas cantassem uma bela canção aos nossos ouvidos insensíveis. Mas como apurar os ouvidos e observar é característica de meu trabalho, aprendi que há sempre som dentro do silêncio, e, é uma pena mesmo a maleta ter desaparecido. Poderíamos caminhar por estas alamedas desertas, e quem sabe, a senhora ficasse perplexa com os sons que vem da noite, da lua e das estrelas.
- Conheço os sons das estrelas, elas sempre cantam sua canção para mim, Sr.Jaime
- Tens admirável bom senso minha senhora, quisera ter uma audição assim tão perceptiva.
- Mas não é fácil meu senhor, isso exige de nós um tempo do ouvir. Imagino, por conta do seu próprio trabalho, que sabe o quanto valorizamos a imagem. E, assim nem nos damos conta da necessidade do silêncio para poder ouvir. Ouvir tanto a si quanto os sussurros dos ventos, onde caminham as vozes das pessoas queridas, a alegrar o espaço amplo de nossos corações.

-Minha senhora, que senso tem para o som até mesmo o emitido pelo corpo em movimento de vida das pessoas ao seu redor! Qual sua profissão? Tem certeza que não esta na área errada poderia de ser melhor do que a mim em minha empreitada pelos ecos desse mundo.
Desculpe-me, senhor, estava tão concentrada na procura de um objeto valiosíssimo de um outro hóspede, que nem escutei o seu nome. Com vê, meus ouvidos não são tão apurados assim, ou melhor, são, mas não para todas as coisas. E até hoje não compreendi muito bem isso, penso que é coisa de família. Meu avô tinha um excelente ouvido para a música. Era marceneiro de mão cheia, aliás, dizia que o serrote na madeira emitia verdadeiros acordes. Com ele aprendi que, às vezes, uma coisa não tem nada a ver com a outra, que nem sempre a imagem diz o que lemos, e essas coisinhas aparentemente banais, mas que carregam um grande significado.

Mas agora era Jaime quem não ouvia mais. Não lhe fora fácil se apresentar, dizer seu nome. Dizer seu nome a quem? Ao vento?
Sueli estava perdida em seus pensamentos e na procura do objeto precioso, a Nagra do Sr. Jaime, que sequer ouviu o novo hóspede apresentar-se.

As estrelas ainda brilhavam num céu estranho, a lua ainda mais no alto, mas dentro, no coração de Jaime, ainda havia uma preocupação maior que não permitia que se entregasse a essa nova pessoa, tão exótica quanto ele. E não conseguia esconder a aflição de ter perdido seu instrumento de trabalho e suas mãos mostravam, pelo tremor insistente, seu nervosismo; o que fez com que Sueli se desligasse por um momento dos seus afazeres e, lendo a face do hóspede, perguntou:
-O que é mesmo que disse levar na maleta?
-Um Nagra, é um gravador poderosíssimo que capta com qualidade sons quase imperceptíveis ao ouvido humano.
-Puxa, que interessante, e você nunca pensou em usá-lo para fazer escutas, de conversas alheias e que poderiam ser interessantes de se ouvir em certos momentos de solidão?
-Na verdade, já fiz isso uma vez, mas não tenho esse costume, só uso com pessoas que me despertam o interesse. Uma vez, por descuido, acabei gravando uma conversa sua e, por acaso, ouvi que comentava sobre mim. Que eu era reservado, calado e, se não me falha a memória, intimidador. Gostaria de desfazer essa impressão. A gente poderia um dia desses tomar alguma coisa.
-Estou muito ocupada, além disso, sou casada e tenho uma criança.
-Não! Tem certeza disso? Estou quase certo de que ouvi o contrário. - Talvez seu Nagra
tenha ficado com defeito.
- Pouco provável. Mas eu estava pensando num sorvete. A senhora não gosta de sorvetes?
Adoro Sr.Jaime, ótima idéia. E quem sabe, ao sabor de um delicioso sorvete, eu possa desfazer esse equívoco, já que a probabilidade de seu Nagra ter dado defeito é inexistente.
-Vai rir muito com o que vou revelar. Não se espante não, não chega a ser demência. Mas é muito bom vê-lo sorrir. A verdade, é que tenho uma imensa paixão por livros. E leio alguns trechos em voz alta. O que gravou foi uma desses maravilhosos momentos. Talvez insanos. É uma maneira que encontrei de pertencimento à obra. No silêncio do meu quarto, ouvindo minha própria voz é como se a dor, a alegria, a descoberta dos personagens fossem meus. Outras vezes, fico em silêncio tentando enxergar o personagem: — seu rosto, seus olhos, sua boca. Aprendi com meu avô a importância de ouvir o silêncio para se criar a imagem perfeita.
Mas eu fico aqui, falando quando deveria estar ouvindo. Penso que tem muito a ensinar Sr.Jaime Cor... Desculpe-me não quero ser indelicada, mas tive uma leve sensação de que quando se apresentou disse mais um outro nome. Cajado seria ou me enganei...?

- Córdoba minha cara, a seu dispor. Curioso, conheci um Cajado há algum tempo, era um sujeito taciturno, meio coxo, dava a impressão de estar sempre tentando entender coisas que não lhe eram permitidas entender, não sei que lhe sucedeu, gostava dele, era uma dessas pessoas que a gente nunca esquece, mas que parece esquecer da gente.
- Tem muita gente assim senhor Córdoba.
- Jaime
-Sim, Jaime, por favor, não me chame de senhora, parece que esta falando com minha avó
- Com prazer Sueli, veja, somos seis bilhões de habitantes no planeta agora, muitas pessoas desaparecem neste turbilhão de gente
- Entendo, também conheci um Cajado, não sei se era coxo, mas era um bom pen pal, um amigo de internet que afinava bem com minhas idéias. Ainda somos amigos, vou perguntar a ele se ha algum coxo em sua família.
-Pois e, com tantas pessoas nesse mundo será possível que conhecemos o mesmo Cajado, Jaime? Estou tentada a crer que sim. Muita coincidência, pois esse meu amigo também tem essa característica, tão rara nos dias de hoje: — o de espantar-se com as coisas, de querer entendê-las. E apesar de conhecê-lo muito pouco, o fato de nossas idéias se afinarem, me dá essa tranqüilidade em falar dele a você. Seria ótimo não, se fosse o mesmo e, ainda, de quebra gostasse de sorvete. Sairíamos os três pelas alamedas, em busca de sorveterias.
Falaríamos da vida, do acaso, do som, do silêncio, da imagem, da amizade, do querer, e em ser quem se é. E pode ser que você ache o seu Nagra! Aí tudo passaria a não ser coincidência.
- Sim, vamos torcer que isso aconteça. Mas deixa esses Cajados pra lá. Vamos tomar nosso sorvete.
- Claro! Vamos lá.

E assim fomos pela alameda sob a luz das estrelas rumo ao sorvete de flocos.

Sergio Cajado, Youkai, Paulo Marcello, Tem um Cabelo na Minha Sopa, Sueli Aduan

domingo, 28 de março de 2010

Domo Arigato Gozaimasu

- O que vc faz com sua boca?
- Eu cuspo e você?
- Bom, eu falo....
- Mas fala bastante he?
- Sim, mas so quando necessario
- Domo Arigato Gozaimasu
- Que que é isso que vc falou?
- Eu te disse obrigado
- Porque?
- Porque você, sendo um trovador de poesias etéreas, dá um novo sentido as coisas que eu as vezes não percebo...
- E porque você cospe?
- Porque sou um Gourmet que tenho de saciar minhas papilas gustativas deveras insaciáveis, e as vezes me deparo com sabores que não são agradáveis...
- Este é o destino de seres sensiveis como nós, falar e cuspir as vezes se confundem no lapso do tempo infinito
- Sim, falar e cuspir são coisas que saem de dentro
- Ha talvez mais coisas que saem de dentro...
- Por exemplo?
- Hum... um filho... Pérolas, saem de dentro.
- Sim, um filho... a continuidade de nós e nossos genes, que vem atravessando gerações em busca da imortalidade...
- O grito também sai de nós, né? Mas ele vem da garganta ou da alma?
- O grito vem da garganta! Da alma vem o motivo de gritar...
- O porque gritar e não agir?
- Isso é pessoal, mais geralmente porque quando você age, dói mais do que apenas entrar em panico.
- Hehe isso é engraçado. Aprofunde esse argumento.
- Pelo meu conhecimento gritar é se expressar, não exatamente fugir, mas achar que é síndrome de panico é no mínimo original!
- Todo mundo que grita está de certa forma em panico!
- Será? Ou voce quer que assim seja porque voce nunca grita?
- Me diga uma única pessoa que resolveu agir gritando e se deu bem na vida?
- Ora, os samurais! Eles não gritavam antes de agir com o sabre? Ou aquele grito nada representava?
- Mesmo assim eles as vezes perdiam pros ninjas! Sabe como é, o silencio da ação gera alguma vantagem, os bons assassinos que os digam e que digam todos os que usam da sabedoria da palavra para suas ações, quer seja no grito, às vezes necessário, quer num sussurro que nos chega aos ouvidos e nos leva à loucura do fio da espada!
- Mas nisso tudo, o que vale mais, a ação do sabre ou a teoria da palavra?
- Tudo depende da situação, ambos são úteis, em momentos adequados.
- Então, quer o homem caminhe na paz de seus dias ou na luta de suas guerras sempre terá uma escolha a fazer. E de seu interior, na criação de sua palavra que nunca cala, que insiste em soltar-se das profundezas de seu âmago.
- Somos assim, seres que expõe o que tem dentro.
- Sim somos assim... só que preferia mais ser um honrado samurai que um ninja sorrateiro
- Do que vc esta falando?
- Você disse que as vezes os ninjas batem os samurais..
- Não, foi vc que disse isso.
- Foi?
- Foi
- Hum, de qualquer maneira nada pode fazerv um samurai com um canivete contra um ninja com um sabre.
- Mas porque?
- Porque o samurai vem carregado da sapiência dos antigos, onde mais valia a honra do que qualquer conceito que hoje vigore.
- Como assim?
- Sabe que tua força mora dentro das sabedorias das gerações em servidão e vigilancia constante, sua gloria em vida era morrer com honra. Então canivetes podem ser mais mortais do que qualquer sabre carregado pelo oponente, uma vez que cada golpe desferido por um samurai emana de sua afiada crença em seu destino, nada teme em face dos tormentos.
- Até parecem que não são humanos! Há entre eles alguns onde essa definição não se encaixa.
- Por exemplo?
- Itto Ogami por exemplo e existem outros alem dele.
- Mesmo? e entre os ninjas? Não existe alguem que se compare?
- Logicamente que existe, mas ninjas ao contrário dos samurais são sombras, não brasas, são poeira, não rocha, eles passam invisiveis e despercebidos. Sua vida é uma camuflagem permanente e seus nomes nada mais que facas em costas anonimas... com graça e medo movemo-nos sobre esse fio da lâmina.
- Seres engraçados que somos, nomeadores de coisas que saem de dentro que vivem fora e retornam de onde tudo parece mover-se.
- Mas porque agem desta maneira?
- Porque são sábios...
- Sábios como nós?
- Sábios como o tempo.
- Mas você então deve ser samurai!
- O que tenho nos bolsos são só três pedrinhas. Cada uma delas me lembra do que sou a cada dia.
- Mas você é samurai ou não?
- Se sou samurai ou não, isso não importa mas não sou digno de ser um sábio...
- E que te faz lembrar essas três pedrinhas?
- Lembram-me que posso ser duro, mas que também viro pó; que posso ser precioso ou não; que no meu caminho muitas delas podem existir e humildemente as supero, uma a uma. As tres que carrego possuem nomes, a primeira chamo de Ying, a segunda de Yang e a terceira de Devir. Mas os nomes não são importantes e sim seu significado.
- Eu tenho dois rolinhos de papel no bolso. Um eu chamo de Kien, a força do criativo ou outro eu nunca abri e não tem nome.
- Porque não tem nome?
- O primeiro contem o sentido de minha existencia e o segundo é meu futuro
- Quer dizer que vc nunca abrirá o segundo rolinho?
- Ele se abrirá sozinho
- E se vc o perder?
- Isso não importa. E mesmo que alguém o encontre, coloque em seu bolso nada disso ira alterar o que de antemão está escrito nas sílabas invisíveis do amanhã, ele é apenas simbólico, um lembrete de que no tear de nossas vidas, não há pontas soltas, todos os fios estão entremeados e revestidos de significados. O futuro será escrito com as penas da Fenix, o futuro será permeado pelo fogo da destruição e da reconstrução. Renovação constante que não cabe a um homem tentar controlar. Somente podemos viver. Viver e amar. Amar a chuva que caí e o fruto que nasce. O riso, o choro, a dor e a morte. Mas acima de tudo a liberdade de podermos dizer.
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quinta-feira, 25 de março de 2010

Nosso hóspede


Era um sujeito de poucas palavras, desses que vez ou outra aparecem por aqui e só nos cabe o silêncio e um impecável atendimento. Não posso dizer que não ficava intrigada toda vez que o via descendo as escadas. Arrastava um pouco a perna o que aumentava a áurea de mistério que envolvia sua vida, além da minha própria desconfiança. E, a bem da verdade, a desconfiança não era só minha, não. De hábitos estranhos saía de manhãzinha levando uma pequena maleta preta e só retornava a noite. Exatamente no momento em que nosso hóspede chegava eu sempre me encontrava sozinha na portaria.
Foi quando numa dessas noites e com um céu estranhamente estrelado, a lua indo alto, que percebi: — não voltou com a maleta, mas ele também percebeu o meu espanto.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Kuchi ni suru

Mover
- O que vc faz com sua boca?
- Eu cuspo e você?
- Bom, eu falo....
- Mas fala bastante he?
- Sim, mas so quando necessario
- Domo Arigato Gozaimasu
- que que é isso que vc falou?
- eu te disse obrigado
- Porque?

quarta-feira, 17 de março de 2010

É só um café. Será?

De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é meu bem, meu mal
No mais, as ramblas do planeta
Caetano Veloso

É que foi acontecendo devagar dia após dias, eu mesma no começo não percebi. Sabe quando se bebe água sem muita sede só porque sabemos que é preciso. Bebe-se devagar saboreando cada gole lentamente. É talvez seja isso. Devagar eu fui saboreando esse cansaço. Cansaço de sair da cama todas as manhãs, cansaço de falar até as coisas mais banais.
_ Bom Dia, Lucinha você já trouxe os pães? Ah! Que ótimo. Pão doce? Gosto tanto.
Também poderia não dizer nada. Calar-me, ou simplesmente dizer:
_Lucinha, hoje, teremos convidados para o jantar. Faça algo diferente.
E se ela coloca um laxante em meu suco? Ou até algo mais forte só de raiva. Acontece.
Só eu para pensar isso. Será? Em algum momento da vida de cada um deve ter ocorrido esse tipo de pensamento.

E, se eu acordasse um dia e a Lucinha tivesse se adiantado e preparado um mega café da manhã com croissants folhados, geleias frescas, coalhada com hortelã, torta holandesa e um expresso ficaria talvez desconfiada. Seria talvez a hora de pedir um aumento ou avisar que ia viajar pra ver a avó doente...de onde vem estes pensamentos nefandos que desconheço a natureza? Não sou assim, mas algo dentro de mim insiste em pensar desta maneira. Talvez o lado negro da força como diria o Dart Vader. Mesmo qdo dou uma esmola uma voz interior me acusa de ser auto indulgente, de satisfazer minha vaidade ou necessidade de descarga de culpa e uma lista interminavel de decretos internos os quais em sã consciencia não concordo absolutamente.

Quem é que consegue viver sobre tamanha pressão? Escolher o bom mocismo ao invés da liberdade de pensar e agir. Condutas pré-fabricadas. Tenho inveja da Lucinha, envenenar a própria patroa, é preciso coragem. É que ela não segue os padrões de comportamento ditos adequados às empregadas, e, é por isso que a escolhi. Mas não nego o risco que corro por esse meu capricho: “piso na bola”, uma vez só, e ela queima minha camisa preferida ou mata uma de minhas orquídeas de estimação. Uma vez chegou a colocar amendoim ralado na cobertura do meu sorvete, sabe que sou alérgica, no fim disse ao medico: foi um acidente, mas sei que foi proposital.

Por que tal atitude? O que fiz a ela naquela ocasião? Hum! Lembrei-me, eu tinha deixado meu sapato em cima do seu travesseiro. Parece que ela não curtiu. Isso é paranóia minha? Puxa, foi distração. Fico pensando: não seria o caso de dispensar a Lucinha? Evitar num futuro, pelo jeito, bem próximo maiores problemas ou ainda procurar aquele terapeuta. Qual era o nome dele? Puxa, ando muito distraída mesmo. Lembro-me que era bigodudo e tinha uma idéia bastante interessante sobre viver e retornar.

Acho que vou procurá-lo assim que tiver tempo. Eu realmente amo a Lucinha, mas pela minha própria segurança devo tomar uma ou duas precauções. Terrível isso, mesmo sabendo dos problemas que ela me causa, não consigo deixar de me divertir pensando sobre o que ela fez, e imaginando o que será que ela fará amanhã. E se eu seduzisse seu namorado? O que será que faria? Boa idéia, Isso vai ser muito interessante. Será? Já não é o bastante todo esse equívoco

E quero imediatamente fazer tantas outras coisas. Mas aquele copo de água, dele eu continuo bebendo, mesmo já saciada, mesmo farta dos goles de cansaço que descem lentamente, arrastadamente pela garganta, e afinal já não consigo fazer nada imediatamente. E talvez nem depois. E se eu olhar pela fresta da porta, tão cedo, e só a ausência da Lucinha me encarar? E afinal eu descobrir que no fundo daquele copo d’água havia um vazio completo, e que dele eu bebi

E afinal eu sair pela porta, sem pensar, e ao abri-la, como num passe de mágica, tudo aconteceu. À mesa estava posta, o cheiro de assado me deu um peteleco no estomago, as flores frescas no aparador e a casa vazia.
Ligeira, estupefata procurei pela Lucinha em todos os cantos e vi que ela havia desaparecido.Agora sem estar ela estava. E a água insípida, inodora, como deve ser a água e a Lucinha invisível como deve ser.

Mas e se ela resolve voltar. Só eu para pensar isso. Será?

CajadOmatic, Youkai, Neto Cruz, cristinasiqueira, sueliaduan

quinta-feira, 11 de março de 2010

Só eu para pensar isso.Será?


É que foi acontecendo devagar dia após dias, eu mesma no começo não percebi. Sabe quando se bebe água sem muita sede só porque sabemos que é preciso. Bebe-se devagar saboreando cada gole lentamente. É talvez seja isso. Devagar eu fui saboreando esse cansaço. Cansaço de sair da cama todas as manhãs, cansaço de falar até as coisas mais banais.
_ Bom Dia, Lucinha você já trouxe os pães? Ah! Que ótimo. Pão doce? Gosto tanto.
Também poderia não dizer nada. Calar-me, ou simplesmente dizer:
_Lucinha, hoje, teremos convidados para o jantar. Faça algo diferente.
E se ela coloca um laxante em meu suco? Ou até algo mais forte só de raiva. Acontece.
Só eu para pensar isso. Será? Em algum momento da vida de cada um deve ter ocorrido esse tipo de pensamento.
E,

terça-feira, 9 de março de 2010

cavaleiros da Linguagem

Rumavam, como todos rumam, a uma direção imprecisa onde os sinonomos e os antonimos viviam em desacordos harmoniosos, esperavam em desconforto nos aeroportos e gozavam férias forçadas quando as praias estavão lotadas. Mas preservavam a lingua a qualquer custo, minha lingua é minha patria, sem anglicismos ou galicismos latinizando inclusive de tempos em tempos expressõess a serem gravadas no tempo.

Non ducor, duco, Não sou conduzido, conduzo. Por florestas de sinonimos e montanhas de adjetivos atravessavam os hiatos esquivando-se de cacófonos e gírias. Perguntavam-se se o idioma portugues havia nascido na cidade do Porto ou num porto efêmero de alguma distante colonia pós barba. Mesmo os predicativos do sujeito não encontravam objetos que fossem diretos o suficiente para verbalizar a onomatopeia de espanto ante a interrogação de genero, numero e grau. E, seguem de espanto em espanto nessa floresta de significados e significantes. Constante busca do sujeito na construção do corpo e do espaço. Uma teia feita de sons e palavras, coisas e objetos, de dores e amores.

Desejo do verbo de substantizar os adjetivos no ritmo das silabas sibilantes. Mesocleses e prosopopeias em estado de alerta, predicativos deste sujeito mal-barbado a espreita num dos cantos de uma sentença com a oração batendo rapida. Tudo num so suspiro de interjeição. Mas a virgula não é um ponto final e, não sendo o final me reconheço como sujeito da oração, um sujeito pleno na razão da sua ação, não oculto ou indeterminado e que, portanto, não é conduzido, mas conduz.

E de tudo que há terei na face da lua meus olhos cravados, ponto distante e brilho para meu espanto: ah! As palavras, a forma e o final feliz.

domingo, 7 de março de 2010

Os cavaleiros da linguagem

Non Ducor Duco

Rumavam, como todos rumam, a uma direção imprecisa onde os sinonomos e os antonimos viviam em desacordos harmoniosos, esperavam em desconforto nos aeroportos e gozavam férias forçadas quando as praias estavão lotadas. Mas preservavam a lingua a qualquer custo, minha lingua é minha patria, sem anglicismos ou galicismos latinizando inclusive de tempos em tempos expressõess a serem gravadas no tempo, Non ducor, duco, Não sou conduzido, conduzo. Por florestas de sinonimos e montanhas de adjetivos atravessavam os hiatos esquivando-se de cacófonos e gírias. Perguntavam-se se o idioma portugues havia nascido na cidade do Porto ou num porto efêmero de alguma distante colonia pós barba. Mesmo os predicativos do sujeito não encontravam objetos que fossem diretos o suficiente para verbalizar a onomatopeia de espanto ante a interrogação de genero, numero e grau.
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sexta-feira, 5 de março de 2010

Os potes dourados


Havia sobre a relva verde um pote enferrujado, esquecido dum tempo mágico por entes de outros tempos diferentes, daqueles onde sábios podiam datilografar sem olhar o teclado, beber tubaina em copos dourados sem que comentassem distraidos que um menino dormia na rua sem travesseiro, recostado num muro, querendo um lençol para se cobrir e segurar uma mão bondosa em caso de tristeza profunda.

Mergulhou então no pote enferrujado e dalí saiu um homem dourado pondo fim a seu tormento que era viver sem magia. Endireitou o corpo e apontou a lua fazendo nascer estrelas de açucar. Nuvens passavam sobre ele fazendo chover confeitos coloridos que encheram a relva verde de cor. La onde escondiam-se pererecas alegres e gulosas, formigas trabalhadoras faziam os sonhos florescerem no olhar.

Começou então a mergulhar como as sereias, perdendo o seu dourado e tornando-se plumbeo, frio. Foi então que viu na superficie pequenos e belos potes mágicos guardados por gnomos, os mestres da terra despedindo-se das sereias imaginarias. Sucumbiu aos potes cujo aroma lembrava nenufares senis e foi ai que descobriu que poderia novamente vestir-se do ouro e brilhar na águas silenciosas.

escrito por... todos nós :o)
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