sábado, 30 de maio de 2009

Dialogo Interior com o Neurônio número 8


10 hands (+ 86 billion Neuronions)

Ah, que bom, aquele zumbido passou. Foi devido a uma cirurgia de extração de cérebro que levou até meu ultimo neurônio. Um dos 8, não sei bem qual que foi. Acho que foi aquele que chamava disciplina.
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Tambem, era um inútil sempre se colocando a frente das necessidades do todo. Arranquei-o com um alicate de pressão. Mordi o rabinho dele, girei e tchok, saiu o neuronião ali, pulsando, falando palavrão, se debatendo, tudo em vão. Grudei ele debaixo da minha escrivaninha como se fosse um chiclete velho, mastigado por um adolescente. De vez em quando ele suspira, eu empurro com o joelho pra espremer ele mais.
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Ontem, ouvi um gemido vindo dali, cheguei mais perto e escutei ele sussurar baixinho:
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— Ei, você. Você precisa me ouvir. Sem disciplina você não vai chegar a lugar nenhum... Muito provavelmente sequer vai sair do lugar. Aliás, presta atenção no seu joelho. Cada vez que você insiste me empurrar, ele treme. Presta atenção! Tá vendo? Ele tá sem disciplina. Não sabe se vai ou se fica. E quem disse que eu me coloco frente às necessidades do todo? Você pode dançar sem disciplina, mas se der com a bunda no chão, não surte, não esboce um "a". Tudo faz parte do seu descompasso, da sua inaptidão de nos controlar, seus próprios e querido neurônios. Porque sobra pra nós, neurônios, o estampido.
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– Sem contar o zumbido no seu ouvido não era meu, disse o 38.953.371 Temos inimigos verdadeiros aqui dentro. A sua orelha não está crescendo à toa. Me escute. Você tem que me escutar. Pode até ser que pareça que eu me coloco diante do todo, mas digamos que eu seja filho da precaução. Se eu não estiver aí, você talvez não tenha a disciplina de se olhar no espelho, e não vai perceber a sua orelha crescer, até que seja tarde demais, e ela rasteje no chão, atrás de você. Já imaginou a vergonha que ela vai sentir das outras orelhas? Inclusive a que não está crescendo?

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Ah, faltou meu sussuro baixinho do 8:

– Ahhgnnrnghogfanahannnnnnnnnão me deixe aqui... tenha a disciplina de me aceitar! ...Ou então mande companhia. Pode ser o neurônio número 3. Ou o 9. Só não me manda o 6, (que aí tua orelha despenca de vez) Poxa! vai me descartar mesmo da sua vida? só porque eu lhe grito pela disciplina? sou o melhor, o número 8! Quem você pensará que é sem mim, hein?

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Ai ai ai, agora comecei a ouvir coisas. Bocejo. Coço a cabeça. Dou uma olhadinha pela janela. Acendo um cigarro, dou uma tragada, me sinto culpado, olho pro teto e dou um grito: – Mas eu não quero ter disciplina! Quero decair, doce decadência depois de tantos anos de dever... Isso é um ultraje! olhei bem no olho do neurônio e ele estava segurando uma bandeirinha escrita:
Protesto!

Tenho uma amiga com seus bilhões de neurônios ativos e uma vez ouvi o 735.254.881 dizer pro 91.448.045,
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– Sabe, queria largar tudo isso, ir morar no campo com a familia e o outro respondeu.
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– Tudo que vc tem que fazer é encontrar um método, aplicar disciplina e acreditar que qualquer sonho certamente se transformará em realidade, é unlock the key of possibilities. Rume para a luz! Então vieram milhares de neurônios do depto de lógica, ética, perserverança, indignação e encheram o 91.448.045 de porrada e ele nunca mais foi visto...
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Minha conclusão é que tenho que preparar uma emboscada para este neurónio e depois cair na vagabundagem... ou sei la, o que me der na telha. Vou raspa-lo aqui debaixo da escrivaninha, péra, rec rec rec, pronto, e bota-lo nesta caixinha. Bem guardadinho nessa caixinha, e depois aproveitar o tempo. Opa, lá vem o 2, eita neuroniozinho pra me fazer sentir culpado, não, não dou ouvidos, já combinei com uns camaradas os neuroamebas, e o plano já está em andamento, falta uma coisinha aqui outra ali, nada que uma boa estratégia não resolva, umas horas de trabalho muito pensar, (ai não, suma daqui neuro disciplinador).

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– PROTESTO! Sem disciplina, a casa no campo vira um matagal. Em tempo: estou em franco contato com o neurônio nº 1, e ele me disse que o seu cérebro está uma zona. E que o nº 91.448.045 está aí, e que continua afirmando o mesmo, mas que ele mesmo percebeu que não sou eu (a disciplina, o 8) o culpado por você não poder cair na vagabundagem. O responsável por isso é o 1.113, que representa a apreciação pelo establishment. Então, por favor, manda o 1.113 pra cá, e me pega de volta?
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A queima roupa, sem me dar chances nem de balançar a cabeça numa negativa o neurônio 1 em conchavo como 9.711....e num contato rápido, veio com essa (e ainda com voz baixinha, um quase sussurro):
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– Cair ou não cair na vagabundagem, è só uma questão desse 1.113? Então, o jeito é levá-lo a nocaute, simples assim (o 1), eu fico me perguntando, enquanto lá no fundo a lua brilha, com disciplina conseguiremos?

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Eu tava pensando se os médicos iam me aceitar la naquele spa bacana com psicologo, analista, sala acolchoada e aquelas camisas bacanas que prendem os braços e fecham atras mas agora, pensando bem, se eu me apresentar com meus amiguinhos o 8, 6, FN, 3, 9,735254881,91448045 (este é terrível), 2, vovô, 1.113, 9.711 e todos os outros 86 bilhões... acredito que não irão aceitar, com esses amigos a tiracolo, e mais todos os outros, impossível. O jeito mesmo é tentar alguma coisa mais leve, talvez a dança? Não, gosto de ficar com os braços presos atrás, também não dá... quem sabe uma consulta ao pajé? Mas onde encontrar um, estão todos muito ocupados filmando suas histórias! ahhhhh. Tarô, I Ching,... não tem jeito, vou ter que querer o que desejo, pra cair na vagabundagem só com muito disciplina, e, claro pagar o preço.
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Um dos neuronios, o mais jovem, olhou em volta e comentou:
– Cai aqui e pensei que fosse engano, depois senti que poderia ter espaço e ai virei platéia desta comédia de mansos disciplinados e loucos desvairados. Confesso que fiquei pensando, pensando... e resolvi optar em fazer meditação dinâmica para não me perturbar.
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Bom posso consultar também um bom pai de santo, talvez ele possa diagnosticar melhor o que fazer com os neurônios disciplinados e os indisciplinados já que a ciência não tem encontrado soluções palpáveis ou então no último caso, o choque elétrico, pra ver o que acontece (aí meu Deus, mas isso dói!) Ou então um bom matemático para explicar a aritmética dos neurônios, de repente, em X + Y encontra-se um resultado ou um número coerente do coeficiente neurótico. Ou tambem posso optar por um filósofo, quem sabe a resposta esteja nas cavernas, sombra e luz, cair ou não cair...
Uma coisa é certa: Não sou louco. Os neurônios é que o são.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Neurônio número 8


Ah, que bom, aquele zumbido passou. Foi devido a uma cirurgia de extração de cérebro que levou até meu ultimo neurônio. Um dos 8, não sei bem qual que foi. Acho que foi aquele que chamava disciplina. Tambem, era um inútil sempre se colocando a frente das necessidades do todo. Arranquei-o com um alicate de pressão. Mordi o rabinho dele, girei e tchok, saiu o neuronião ali, pulsando, falando palavrão, se debatendo, tudo em vão. Grudei ele debaixo da minha escrivaninha como se fosse um chiclete velho, mastigado por um adolescente. De vez em quando ele suspira, eu empurro com o joelho pra espremer ele mais. Ontem, ouvi um gemido vindo dali, cheguei mais perto e escutei ele sussurar baixinho:


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terça-feira, 19 de maio de 2009

Individuos divididos



Toda generalização é perigosa. Choro por não ter sentimentos. Deixo o tempo passar, engomar, dobrar e ir para a gaveta. O saldo é positivo, afinal, fica feio sermos pessimistas.

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Nada entrava o pensamento no mundo dos sonhos. Porisso somos todos únicos, uma multidão de individuos iguais, cada qual com sua individualidade padronizada. Cada qual com seu numero de serie, seu RG, sua ID. Todos os seis bilhões de nós, todos olhando para frente, todos olhados por tras porque o mundo tem a forma geóide. Mas não estamos em fila e vemos através do ar e do som.

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Antropóides urbanos movendo-se aleatoriamente entre as paredes de seus universos pessoais. Seus mundos redondos são infinitos como aquários. A mecânica do todo há de ser descoberta mesmo que seja uma de ordem caótica e imprevisivel.

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terça-feira, 12 de maio de 2009

Sentindo sentidos

8 hands


Estava andando, senti um cheiro. Tinta fresca, as grades da cerca haviam sido pintadas. Continuei mais um pouco e ouvi um som. Um pequeno monomotor voando la no alto. Comentei com meus botões que como sempre nada responderam. Pasei a mão pela sebe, senti o orvalho frio entre meus dedos. Olhei ao redor. Senti o gosto do vazio. Um gosto contrário ao do cheio. Do volumoso. Do extenso. Minha história se encurtava, ou eu era apenas um nervo à flor da pele, reclamando atenção? Nem as cores que o cheiro da tinta enunciavam poderiam me dizer sobre nada nesse momento , eu pressentia. Presentia o momento em que os sentidos anunciavam o vazio dos dias. O vazio na alma. Precisa preencher os espaços. Novas cores, novos cheiros, novos rumos. Como seguir em frente? Agora, nada teria mais importância, a cerca vermelha, a casinha branca ao fundo, eram apenas imagens contrastes para uma realidade que se anunciava . Em poucos minutos ,talvez eu tivesse a resposta.

Perplexo senti meus pés chafurdando lentamente no lodo. Entravam meus movimentos este lodo negro? Se estivesse mesmo entravado poderia submergir nestas ideias arcaicas neste questionar infundado que agora afundavam inescrupulosamente no seio da terra. Havia de deixar com que voassem meus pensamentos para longe dali. Era preciso. Como um pássaro livre em seu vôo matinal, meus pensamentos ziguezagueavam para longe dali... e, retornavam...retornavam... como se uma força me puxasse, me prendesse no centro de tudo, e eu já não era mais senhor de mim, irresistivelmente atraído pelo cheiro agridoce um cheiro a lembrar cores, cores de um outro tempo. Era tão vazio o gosto que sentia, e o monomotor eu pedia pra alcançar e assim voar pelos campos e sentir que voando o vazio espalharia minha alma ao vento...como o pólen...e o cheiro agora era da brisa da aurora...

Qual seria a sensação de voar feito o pássaro e me atirar no campo de trigo? Talvez voar fosse leve como a puma talvez vertiginoso como o abismo, mas como senti-lo? Em meus sonhos voaria e suavemente inundaria meus olhos na paisagem diafana do trigal, me espalharia como se fosse polem no ar, mas em algum lugar de minha alma sentia medo.

Um medo que percorreia todo o meu corpo, subia pelos meus pés, lentamente, gelava as minhas costas para explodir com toda a fúria na boca do estomago, paralizando assim,os menores movimentos do meu corpo: o piscar dos olhos, o quas sorriso, e a impotência pra chorar. Desse medo, dizem, é que nasce o melhor de nós.

Arrisquei um olhar para o céu. Me vi voando. Levantei um pé lentamente depois outro e alcei vôo na imensidão azul!
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Uma pedrinha no Sapato


10 Hands


No meio do caminho tem uma pedra, não, no meu sapato tem uma pedra! alias, meu sapato ta cheio de pedrinhas, não é a toa que doem todos os meus calos em conjunto sinfonico. No meio do meu sapato tem um buraco. Tem pedrinhas entrando pelo buraco. Pinicam, coçam, ardem, machucam. Espalham-se pelos dedos. Como doem essas pedrinhas, tao pequeninhas, mas ufa... também por fui escolher justo esse caminho.
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Pedrinhas que entram no sapato,
saem do sapato,
entram em casa
saindo do computador
e saltam
saltam
saltam aos olhos.
doem, mexem e pinicam
como moscas na sopa,
como verbos de Drummond.

São incontornáveis, essas pedras? De tanto se acostumar, já não doem? Educam (cabralina) a caminhante? "Mineralizam" a alma já de tanto petrificada? Não há por certo, nesta persistência, algo de masoquismo? Não chegou a hora de buscar um caminho menos pedregoso, para percorrer sem pedras e sapatos? outro caminho, outro caminhar,mas não sozinho é preciso apanhar o grito de um galo antes (uma nova manha?) e lance a outro que com muitos outros galos tracem uma nova rota sem pedras.

Caminho... e tem a trajetoria e tem as pedrinhas. Tudo na maior congruencia de eventos obrigatorios. Resta prosseguir ou desistir. Reclamar é quase preciso pois a gente sempre aumenta um ponto. Caminhos sem pedra seria melhor mas em minha debilitada visão de caminhante mal vejo os galos mas ouço-os cantar. Parece que ja amanhece.

Prossigo. Justo, prosseguir não traz arrependimento, é aconselhavel atravessar a grande agua. E por que não atravessar essa grande rua como alguém, que apesar das inevitáveis pedras do caminho, ainda que só na imaginação escuta um galo à cantar, ou fruto da lembrança do poeta, galos- homens-solidários à caminhar...e as pedras? Continuam a machucar? Um poema alivia a travessia, ou tirar os sapatos ou..ou.. ou algum lugar menos pedregoso a vista.
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domingo, 10 de maio de 2009

Isto ou aquilo



Ficava sempre indecisa isto ou aquilo, vermelho ou azul, rosas ou margaridas, porque não uma terceira opção: vermoazul, amarever, marogari...tudo tão simples a ela.
Senhor os meus tecidos já chegaram? Sim esse mesmo, ah. que pretorelo lindo, combina perfeitamente com minhas sandabotas. Florista, por gentileza, uma dúzia de...
Não se tratava apenas da junção dos nomes das coisas, mas das infinitas possibilidades e usos dos objetos do prazer ou do desprazer. Quantas possibilidades existiriam, ou não.

Instrucções Exotériccas


10 Hands

1. Pegue uma pedrinha e atire num lago. Veja os circulos se aproximando de você. Veja como a agua espirra gotinhas gentilmente no seu rosto.

2. Com o rosto levemente molhado, mais relaxado, solto e se ainda for preciso, faça uma força, aproxime-se esboce um sorriso veja sua imagem na água. (Previna-se. Certifique-se que o coração está repleto, cheio, completo).

Há um risco ... o perigo de se apaixonar pela imagem refletida, (ao se apaixonar como fez Narciso pela imagem refletida na água, que pensava ser ele próprio ...ou um outro eu).


– Tarde demais, caríssimos, antes mesmo de limpar meu rosto respingado, apaixonei-me pelo que vi. Esqueci do lago, da pedra, dos círculos. Minha imagem e existência me bastam. O lago é templo onde sou deus de mim!

3. Agora deite-se na relva e olhe para o céu, veja as nuvens passando em diferentes dimensões.


4. Sinta o vento em seus cabelos.


5. Sorria de novo e de novo, e de novo, e de novo, (está só no mais puro encontro, nada a se preocupar, ninguém a vê-lo o sorriso, o vento,a relva lhe pertencem).


6. Ainda na grama, feche os olhos e invada o universo das lembranças efêmeras, torne-se real naqueles momentos passados.
La de longe pode-se ver alguem deitado no imenso gramado. As nuvens dançam velozes e o vento sopra, num rompante de alegria você é todo passado, de olhos fechados se vê apressado subindo a ladeira, sente o aroma do café a tua espera, ato contínuo estende as mãos, mas o que toca é apenas a grama úmida e aperta-a delicadamente.

Obs.:Se as recordações forem por demais de dolorosas, pare, respire fundo, pegue outra pedra e atire novamente na água. Leia seus novos circulos, seus novos rumos. Em cada ondulação estará escrito um capitulo de sua vida, veja como o circulo se estende aumentando rumo as bordas antes de se dissolver suavemente. Como se dissolve o tempo, como se dissolve o rancor e a mágoa, como se dissolve a alegria, como se dissolve o Amor (tudo se dissolve e descobrimos que a vida são ondas, como numa espiral, vão e voltam, mas passam, passam...)


E
nquanto na presença do agora, quero a plenitude desse momento, fecho os olhos, e me entrego de corpo e alma a Morfeu. Cedendo a sonolencia, da melancolia ao reino onirico da noite, o sonhar cheio de sombras e atalhos envolvem a mente amordaçando a consciencia, mera espectadora destas memorias virtuais.

7. Virar de lado no travesseiro sempre que cabeça começar a esquentar.

8. Mantenha os pes aquecidos.


9. Tenha um copo de agua perto da cama (mas não beba ao amanhecer, so durante a noite)
Ao amanhecer jogue fora a agua e pegue outra mais fresca (Dizem que os maus sonhos e energias dos reinos de morfeu são absorvidos pela agua).

10. Lave o rosto antes e escove os dentes depois do café da manhã.

Sueli Aduan, Lucas Guedes, Célia Ferper, Katia Mota, Sergio Cajado.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Instruções


Pegue uma pedrinha e atire num lago. Veja os circulos se aproximando de você. Veja como a agua espirra gotinhas gentilmente no seu rosto.


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domingo, 3 de maio de 2009

Vejo! (Texto escrito a 14 mãos :o)

Este texto foi criado por 7 autores de diferentes
tamanhos, procedencias, incidencias,formatos,
plataformas, larguras, visões e que espontaneamente
postaram seus comentarios dando sequencia a esta
cronica. O texto original esta na postagem abaixo.




Vejo!

A sensação era péssima, eu nunca tinha estado num lugar desses, procurei na minha bolsa e não achei, só pra ajudar, não tinha trazidos os óculos, e do que ia me adiantar, agora, estar com eles. Por acaso, estou cega? Ou será que pretendo, aqui no meio do nada, ler. Era só o que faltava. Diabos, por que é que na pior das situações me vem esses pensamentos: ler ,colocar óculos, comer chocolate, vai ver é assim com todo mundo. Talvez seja, e daí? O que isso ajuda.


Nossa já é noite, agora sim vou precisar dos malditos óculos. Bendita hora em que marquei minha cirurgia corretiva de miopia. depender de um objeto de acrílico com dois pedaços redondos de vidro é o mesmo que ter pernas e não andar. e se eu já tivesse feito antes, mesmo estando nesta terra de ninguém, não sentiria tamanha angústia por não poder ler.

O fato é que sem óculos estou nu e nu, sinto frio. Se ao menos eu tivesse chocolates... quero enxergar e não posso,coloco os óculos e tira-os sem dó...fazer da cegueira um vício para adiar o sofrimento...e acalmar-se ao chocolate numa noite fria. Acalmar-me com chocolate, mas sem meus óculos e sentindo-me nu com frio, será que num ato falho o que explica tudo isso é, justamente, estar adiando um sofrimento, que sofrimento? e esse lugar existe mesmo,ou sonho.

A falta da visão é um pretexto. Um pretexto para não enxergar minha nudez diante do sentimento, diante do que está distante do que quero ver. Olho em cima da mesa e la está o livro do Saramago de novo. Leio mais uma paginas. Aquilo me da uma aflição danada.

Me lembrei! abro a gaveta tiro um galak e croc, dou uma mordida. Aquele nectar dissolve em minha boca. Fecho os olhos. Nao vejo mais. So sinto o prazer inebriante do paladar. Meus neuronios me chamam, mas eu não atendo. Não ver nada, estar aqui novamente, nessa mesa, abrir e fechar essa gaveta quantas vezes quiser e pernitir-me esse pequeno e simples prazer de um chocolate., não preciso dos óculos, talvez não precise de nada.

Eu fico com as corujas, que vêem no escuro toda a arquitetura do mundo, e dos espaços vazios. E quanto a isso fazem pouco alarde - pensou ela:

– Por que não pensei nisso antes, silêncio e observação, acho que aceito minha postura, não mais questionarei meu estado contemplativo, não preciso do óculos. O gosto do chocolate talvez seja diferente deste que sinto agora, mas gosto muito da qualidade da minha percepção gustativa sem a necessidade de nenhum melhorador de gosto. Que venha a noite, que venha a cegueira do livro, branca como um galak.

Chega de pretextos. Vejo agora minha nudez. Mesmo no escuro, mas sei que foi preciso despir-me para enxergar-me, perder-me para achar-me, nu e no escuro enxergando além.

Uma bela mensagem. Mas agora pensando bem, nem é preciso que seja bela, mas que tenha significado para mim, que preencha meus vazios.

Ah!, Achei os óculos!

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Sueli Aduan, Lucas Guedes, Célia Ferper, Katia Mota, Sergio Cajado, Ana Peluso e Sara Miranda