segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Panta rei



Panta rei, diz Heráclito, se é que disse. Tudo corre, tudo passa, tudo flui. Não posso entrar no mesmo rio duas vezes, porque não será mais o mesmo rio. Muda o rio, mudo eu? Mas, então, os dentes que eu escovarei amanhã - se é que os escovarei- não serão os dentes que escovei hoje? E a minha nuca que recebeu hoje um beijo e sentiu hoje um arrepio, amanhã -tomara os receba e sinta- não será mais a mesma nuca? Ou não serão os mesmos pêlos a se eriçarem? Ou não a beijará a mesma boca, ainda que seja a mesma? E o caminho que percorro todos os dias até o trabalho, como posso sentir por isso tamanho tédio, se tudo já mudou? Cada árvore, cada passeio e passeante, cada carro e cada nuvem, cada som e cada cheiro e cada cor, cada eu que já passou. Se já não sou a mesma de ontem e não serei eu-hoje amanhã, então, quem sou?

9 comentários:

  1. Sim, quem sou? Ontem passei em frente à mesma farmácia na qual um cara fantasiado de pacote de fraldas descartáveis ganhava o seu trocado... Vá lá, honestamente, mas que era um papel ridículo, era.Mas amanhã ele deixará de ser essa coisa imposta pela necessidade. Eu não, serei eu mesma. Ou não. Talvez cada hora que eu olhe, por cima do parapeito da ponte o rio que corta minha cidade - rio que já mudou de curso, teve o seu leito assoreado, já inundou a ilha sobre qual se funda nossas vidas - seja uma hora ridiculamente igual. Diferente só meu modo de olhar, minha invenção de viver assim, só olhando, pensando, deixando as coisas acontecerem e eu não mudar. Não mudar?Tudo muda!Eu, me olhando no espelho, meus resquícios de mesmice, penso que, talvez não...

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  2. sou a sombra do tempo consumida pelas cinzas e tons que se desintegram... nada mais é, o que nem sequer ja foi, nem eu...
    nas aguas, ou em qualquer outro elemento as marcas que nao possuem significado algum determinam as eras, datam a insiguinificancia e a beleza do estado do devir permanente, incluindo eu...
    digo entao, a compreensao tem que ser conquistada...
    digo entao, a arrogancia tem que ser conquistada...
    mais nada nem ninguem conquistará o incontestavel estado de movimento indiferente da energia que repousa em todas as coisas...

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  3. Panta Rei, pensou Heráclito,
    os olho fitos num rio
    em que não me banharei...

    talvez por força do hábito
    eu periclito mas rio
    do mar que outrora pensei.

    :)

    beijos e boa semana,
    Chris

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  4. Heráclito e seu rio. Eu, eu sou mar, eu sou maré. Sou ressaca lambendo as pedras. Sou...

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  5. à chama de uma vela que queima sem cessar,transformando a cera em fogo, o fogo em fumaça e a fumaça em ar.
    E o dia se torna noite, o verão se torna outono, o novo fica velho,
    o quente esfria,o úmido seca

    E tudo nos oferece...

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  6. E tudo nos oferecem ofertas ocas na vida onde sou todo o nada nadando no vazio no cio do absoluto perdendo-me no infinito do eco de minhas incertezas azedas idas indas e vindas de uma lima que rola roliça em terreno plano quadrado torto inclinado sem certas ofertas sobe e o que trouxe? desce o trago da vida que suga convoca convida expira e inspira a (s)er mais que nada sendo o tudo os vazios dispersos sob os olhos dos cegos pulo dos que nada inspiram desvio dos que nada ofegam derrapo dos que vegetam driblo e esqueceram de morrer prossigo doando sobras de espaços vazios a serem preenchidos com palavras lineares desconexas convergentes complexas congruentes óbvias sóbrias começo-meio-fim paro a palavra sou eU.

    (Rollers – 16.11.2009, por Nanda Lym)

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  7. A infinitude do passar,passar,passar,
    e vir a ser um raspão veloz ,atordoada de vida,era de muitas eras.Eu era...finita e eterna.-Como posso dizer como se fosse lógico este incompreensível fato finito sem fim.A cabeça não alcança a veloz idade do tempo e se desmancha dai, sem ser acaba sendo...a mancha do que passou e não há mais sem deixar de ser.O beijo impresso pela boca que não é, na nuca que jamais será.
    Eu fragmento me pondo inteira na ficção dos pedaços da vida.
    O tempo me expandiu em muito mais de muitas vidas.Tornei-me plural de mim tão singular.
    E o tempo nos oferece...

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  8. a oportunidade de ser-de-novo, de ser-continuamente; o medo de ser-em-partes, ser-fragmentado; a esperança de ser-pela-primeira vez. Pérpetuo primeiro de janeiro, ser novo ano a cada momento. Mas o que eu faço com isso que o tempo me faz?

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  9. nada, porque ele é o Deus/Tempo senhor absoluto.E aceito-o docemente, ouço sua voz sussurrando em meus ouvidos: _Memória e futuro juntos, talvez!
    Vivo,convivo na alegria de cada instante, na beleza de cada encontro, em que me reecontro,um eu feito de muitos outos e outros e tantos outros.
    FIM

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