terça-feira, 2 de junho de 2009

Salada cinco cores



era uma sexta-feira fria quando desliguei a tevê, fui à quitanda comprar alface e dei de cara com o amor. ele era grande, forte e me deu medo, mas ignorei, enquanto apalpava e escolhia tomates.

o amor me seguiu e, como se não o visse, fingi procurar repolho. roxo e branco, exatamente como na receita anotada no verso de um papel velho de anúncio de pizza. faltava apenas a cenoura para completar os ingredientes e, depois de pegar sem critério as primeiras que vi na bancada, fui ao caixa.

o amor estava no guichê ao lado e assim que saí percebi que ele ainda me seguia.


17 comentários:

  1. Que cor tem o amor? Não posso fugir de me perguntar. Mas tambem não posso ignorar o amor ali, esperando para ser ignorado. Muito além de minhas preocupações existem outros universos fervilhando de energia. Mas eu não sei.

    Disfarcei mais um pouquinho e fiz sinal para um taxi, so pra ter certeza.

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  2. Amor havia sofrido muito, e ficava com pena dele ali, abanando o rabinho com a lingua de fora. Mas não tinha nada a ver com isso. Amor pertencia a vizinha, uma mulher mal-humorada com profundas olheiras.

    De vez em quando parava e olhava para tras, ele continuava me seguindo

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  3. Uma hora me enjoei e decidi, vou dar uma bica nesse cahorro que ele vai parar do outro lado da rua, cachorrinho de merda. Peguei umrepolho e atirei nele. Ele deu um ganido e continuou la me olhando. Abri a sacola de frutas disposto a descarregar tudo naquele animal estupido. Usava uma mascara de mergulho e pés de pato que a velha com olheiras havia feito para ele.

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  4. então lembrei de bunuel em 'esse obscuro objeto de desejo'. lembrei daqueles dois personagens que se amavam mas não davam vazão aos seus sentimentos. lembrei que fui traído várias vezes e me arrependi por ter ignorado e desprezado o amor, que agora insistia em voltar praquela velha.

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  5. lembrei da figura de meu avô sentado de cócoras ao lado do fogareiro acendendo seu cigarrinho, e dizendo coisas "du coração" (como dizia ele),du zóio no zóio, da boca na boca,
    quê sabe vou pegar esse animal pelo rabo, a velha que me perdoe esse amor é meu, du coração.

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  6. não sabia bem se cortava os zoio dele com uma navalha ou o levava para casa no colo. Um misto de amor e ódio, atração e repulsão. Ele abaixou a cabeça até encostar no chão, e me olhou.

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  7. como me aborrecer com aquele olhar cumprido,enviezado,cor de mel.
    Como se entendesse meus pensamentos,rolou pra cá,pra lá ,tentou de tudo...não resisti..
    guardei a navalha pra uma outra ocasião

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  8. mas não esperei que ela chegasse tão rápida, já que veio: seja bem vida,pego a navalha...

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  9. e parto pra cima do cão paspalho. Ele não se move. Apenas levanta a patinha e para meu assombro me diz.

    – Qual é a sua, vc nunca amou?

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  10. falei baixinho em seu ouvido,sim amo muito,não saberia viver sem amor, não sei o que me deu...afaguei sua cabeça ,ele olhou-me novamente, que animal

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  11. simpatico, como pude sentir raiva dele? Talvez essa coisa do não saber, a dúvida. Minhas frustrações atiradas sobre o pobre animalzinho, foi injusto. Peguei-o no colo e fui andando pela rua. Ele se aconchegou e foi fechando os olhinhos por debaixo da mascara de mergulho e me disse:

    – Não me leve praquela senhora, ela não gosta de mim, veja este traje ridiculo, indigno pra um cão.

    – Fica tranquilo dog, não te levo la não. Foi quando ao olhar para a esquina, la estava ela, em posição de açucareiro, com os braços na cintura.

    – Amor!

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  12. Amor! que nada!!!percebi pelo seu olhar e pela posição, tão caracteristíca dessa gente chegada à dar ordens, que ali estava uma velha ranzinza querendo seu bichinho de volta. O que fazer?

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  13. eu nunca tinha tido o amor tão perto, quase dentro de mim e aquela velha (que o abandonara) agora o queria de volta! na-na-ni-na-não! o peguei no colo e coloquei-o próximo ao peito, o cobri e levei ao meu apartamento. o amor dos outros agora era meu.

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  14. era assim que devia ser, pensei.Uma leve culpa quase se instalou, não permiti,quem mandou a velhota ser assim,heim? Tanto tempo vivendo pra nada.

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  15. Amor balançava agora o rabinho e me olhava la de baixo. Estava tão feliz e eu tambem, afinal nunca tinha tido um cão falante com pé de pato, snorkel e mascara de mergulho. O amor agora morava comigo e completaria o vazio de minha existência. Então ele me disse:

    – Que teremos para o jantar?

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  16. jantar? não temos tempo hoje, pode ser um lanchinho? que tal um cachorro quente.
    nãoooooooooooo ele sumiu.

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  17. – Amor! Amoooooôr! Amor?, Onde estaria o amor, procurei de todas as maneira, fiz de tudo, investi tempo e dedicação procurando o Amor.

    Ah, parece que estava fadado a passar o resto de minha vida sem Amor

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