quarta-feira, 17 de março de 2010

É só um café. Será?

De perto, ninguém é normal
Às vezes, segue em linha reta
A vida, que é meu bem, meu mal
No mais, as ramblas do planeta
Caetano Veloso

É que foi acontecendo devagar dia após dias, eu mesma no começo não percebi. Sabe quando se bebe água sem muita sede só porque sabemos que é preciso. Bebe-se devagar saboreando cada gole lentamente. É talvez seja isso. Devagar eu fui saboreando esse cansaço. Cansaço de sair da cama todas as manhãs, cansaço de falar até as coisas mais banais.
_ Bom Dia, Lucinha você já trouxe os pães? Ah! Que ótimo. Pão doce? Gosto tanto.
Também poderia não dizer nada. Calar-me, ou simplesmente dizer:
_Lucinha, hoje, teremos convidados para o jantar. Faça algo diferente.
E se ela coloca um laxante em meu suco? Ou até algo mais forte só de raiva. Acontece.
Só eu para pensar isso. Será? Em algum momento da vida de cada um deve ter ocorrido esse tipo de pensamento.

E, se eu acordasse um dia e a Lucinha tivesse se adiantado e preparado um mega café da manhã com croissants folhados, geleias frescas, coalhada com hortelã, torta holandesa e um expresso ficaria talvez desconfiada. Seria talvez a hora de pedir um aumento ou avisar que ia viajar pra ver a avó doente...de onde vem estes pensamentos nefandos que desconheço a natureza? Não sou assim, mas algo dentro de mim insiste em pensar desta maneira. Talvez o lado negro da força como diria o Dart Vader. Mesmo qdo dou uma esmola uma voz interior me acusa de ser auto indulgente, de satisfazer minha vaidade ou necessidade de descarga de culpa e uma lista interminavel de decretos internos os quais em sã consciencia não concordo absolutamente.

Quem é que consegue viver sobre tamanha pressão? Escolher o bom mocismo ao invés da liberdade de pensar e agir. Condutas pré-fabricadas. Tenho inveja da Lucinha, envenenar a própria patroa, é preciso coragem. É que ela não segue os padrões de comportamento ditos adequados às empregadas, e, é por isso que a escolhi. Mas não nego o risco que corro por esse meu capricho: “piso na bola”, uma vez só, e ela queima minha camisa preferida ou mata uma de minhas orquídeas de estimação. Uma vez chegou a colocar amendoim ralado na cobertura do meu sorvete, sabe que sou alérgica, no fim disse ao medico: foi um acidente, mas sei que foi proposital.

Por que tal atitude? O que fiz a ela naquela ocasião? Hum! Lembrei-me, eu tinha deixado meu sapato em cima do seu travesseiro. Parece que ela não curtiu. Isso é paranóia minha? Puxa, foi distração. Fico pensando: não seria o caso de dispensar a Lucinha? Evitar num futuro, pelo jeito, bem próximo maiores problemas ou ainda procurar aquele terapeuta. Qual era o nome dele? Puxa, ando muito distraída mesmo. Lembro-me que era bigodudo e tinha uma idéia bastante interessante sobre viver e retornar.

Acho que vou procurá-lo assim que tiver tempo. Eu realmente amo a Lucinha, mas pela minha própria segurança devo tomar uma ou duas precauções. Terrível isso, mesmo sabendo dos problemas que ela me causa, não consigo deixar de me divertir pensando sobre o que ela fez, e imaginando o que será que ela fará amanhã. E se eu seduzisse seu namorado? O que será que faria? Boa idéia, Isso vai ser muito interessante. Será? Já não é o bastante todo esse equívoco

E quero imediatamente fazer tantas outras coisas. Mas aquele copo de água, dele eu continuo bebendo, mesmo já saciada, mesmo farta dos goles de cansaço que descem lentamente, arrastadamente pela garganta, e afinal já não consigo fazer nada imediatamente. E talvez nem depois. E se eu olhar pela fresta da porta, tão cedo, e só a ausência da Lucinha me encarar? E afinal eu descobrir que no fundo daquele copo d’água havia um vazio completo, e que dele eu bebi

E afinal eu sair pela porta, sem pensar, e ao abri-la, como num passe de mágica, tudo aconteceu. À mesa estava posta, o cheiro de assado me deu um peteleco no estomago, as flores frescas no aparador e a casa vazia.
Ligeira, estupefata procurei pela Lucinha em todos os cantos e vi que ela havia desaparecido.Agora sem estar ela estava. E a água insípida, inodora, como deve ser a água e a Lucinha invisível como deve ser.

Mas e se ela resolve voltar. Só eu para pensar isso. Será?

CajadOmatic, Youkai, Neto Cruz, cristinasiqueira, sueliaduan

7 comentários:

  1. Trilha sonora sugerida... ^^
    http://www.youtube.com/watch?v=w8KQmps-Sog
    XD...

    achei meio desnecessario as modificaçoes e arranjos no texto final... meio que tirou um pouco do espirito coletivo e sobrepos a vontade da narrativa de um elemento dominante... !!!
    alguns elementos retirados davam um ar e personalidade diferentes ao personagem principal, que sutilmente se modificou com as alteraçoes, causando uma dissonancia e criando duas identidades diferentes em cada um dos dois textos...
    mais tanto faz tb... só ressaltando pra nao passar em branco... XD

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  2. Youkai, minha intenção quando modifico "pequenas coisas" é buscar a coesão e a coerência do (no) texto, além das correções gramáticais. Assim todos aprendemos.
    Leia novamente e perceberá que modifiquei, inclusive, coisas minhas. Tudo em nome da norma culta,dentro do possível, e de uma beleza estética também.
    abs

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  3. de boa... ^^
    só toma cuidado... pq ir ao medico em um dia normal e em uma "emergencia" com risco de vida é diferente, muda completamente a gravidade da situaçao... e respectivamente a tolice ou nao da reflexao do personagem sobre o fato e os enlaces do relacionamento complexo envolvido entre os protagonistas!!! fora detalhes corriqueiros que omitidos mudam o espectro de humor da historia como o nome referencial do Dr... que duvido alguem que se lembre de onde ele é rsrsrsrs...
    mais concordo um pouco com vc!!!
    só tome cuidado... pequenas coisas sao longos abismos se lidados de maneira menos atenta.
    ><v

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  4. Tudo bem, Youkai. Recado dado!
    vamuqvamu

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  5. Oi Sueli e parceiros da escrita solta!

    Ficou show!Adorei.
    Acredito que devagar vou voltando.
    Apareçam lá em casa...www.cristinasiqueira.blogspot.com


    Beijos

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  6. Oi Cris, tb gostei! Lindão!:o) E fico muito feliz c/tua volta.
    super beijão

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