terça-feira, 21 de julho de 2009

Apenas uma porta e todo meu sorriso


Em cima da cadeira tinha uma camiseta branca jogada no encosto. No assento havia duas moedinhas, um maço de Hollywood menta quase vazio, um isqueiro Bic verde e uma paçoca bem amassada ainda dentro da embalagem onde se podia ler Amor. Embaixo da cadeira havia um par de tênis aparentando ser a coisa mais chulezuda do mundo onde enfiaram meias para talvez sufocar a ardência destes vapores insólitos.
No ar flutuavam as ondas de uma radio AM com uma dessas musicas que a gente escuta alguém assobiando na rua e que nos parecem tão distante de nossa realidade, que nos sentimos despertos para um outro universo.
Um universo às vezes bizarro, impar, inesperado.
No dia seguinte foi que reparei:

que a cadeira,a camiseta branca o isqueiro,as moedas..o maço...tudo ali me pertencia,a constatação de possuir um tênis chulezudo foi aliviada pela lembrança da tarde em que foram esquecidos numa tempestade, a música,o assobio continuaram distantes.
Somente a paçoca amassada dentro da..,não me pertencia. Memória amarga, do dia em que esse amor não foi consumido. A paçoca jamais seria comida, estava muito velha, era um souvenir de tempos mais sedutores quando ainda em mim morava a esperança. Mas de fato tudo me pertencia, até a cadeira.
Havia muito tempo que não entrava ali, a poeira cobria tudo inclusive a saudade.

Lembrei-me derrepente da gaveta. Ali haviam ficado uma parte de mim, e mesmo com lágrimas nos olhos, ainda pude ver lá escondidinho, no fundo da gaveta, aquele maldito alicate vermelho, com pontas finas, com um corte preciso. Que falta ele me fez.
Parada e estática a olhar aquela cadeira e aqueles insignificantes objetos em meu passado percebi o quanto eram doces como àquela paçoca que deixei de lado naquele chuvoso dia a seu lado, mas não foi derrepente. Nada é.
Aos poucos é que o valor de cada objeto, cada detalhe do passado foi aparecendo e, junto com ele o cansaço das coisas ditas normais.
Cansaço esse daquela rotina, que durante tantos anos foi a mesma chata de sempre, não me deixando ver que cada detalhe dessa vida e de outras, por menores que eles possam ser, cada um tem seu valor. Cada um é especial.

Lembrei de todos os detalhes que passavam na minha cabeça naquela hora, todos de que pudesse me lembrar naquele instante, mas de todos esses detalhes, um se destacou: aquela sua blusinha xadrez, com enormes botões, que até hoje aterrorizam meus pensamentos.

Bem que vc poderia voltar e me dizer adeus como se deve, sem magoas, sem gerar essas pontadas doloridas aqui no centro do meu peito onde moram os fragmentos que restaram do meu coração. Mas allas, cest la vie, procurarei outro porto, novos horizontes mesmo sabendo que apesar de tudo, sempre carregarei um pedaço do que sonhamos juntos e nunca aconteceu. Tava mesmo na hora de partir e, transformar essa magoa virar gente grande, abrir o meu coração, para infinitas possibilidades.
Quem sabe, o inesperado faça uma surpresa.


E assim sentado em meio aquela confusão mobiliaria, misto de lembranças, poeira e passado escuto passos no corredor. A porta se abre à medida que meu olhar se ergue lentamente.
Ante minha expectativa, sou obrigado a sorrir.

Cajodamatic - Maferar- Feex Constantin- Sueliaduan




5 comentários:

  1. Caraca, mas ficou lindo, um dos melhores do Tempus ao meu (romantico)ver... parabéns pessoal.... cada dia melhores ... bjs

    ResponderExcluir
  2. Concordo, ficou lirico pacas, e bem surrealista, com jeito de filme e tal...

    ResponderExcluir
  3. ficou mesmo muito lindo.
    (gostei pra caramba)

    ResponderExcluir