segunda-feira, 17 de maio de 2010

José


José saiu de casa de manhã.
José andou duas quadras.
Esperou o onibus na esquina.

José desceu do onibus.
José andou quatro quadras.
José entrou no prédio de vidro.
José entrou no elevador.
José entrou em sua sala.
Sentou.
José ligou o computador.

José abre o jornal sobre a mesa e espalha papeizinhos pelo chão do escritório.
A janela se abre e mais formularios e notas voam pela sala.


José lê o jornal. Não lê os papeis voando.
José foca a noticia.
José trabalha uma opinião.
José tecla um texto, depois pausa, vai tomar um café.
Antonio comprimenta José na cozinha.
- Bom dia.
José responde com um sorriso meio torto.
- Oi.
José pega um maço de guandanapos.
José fica com um.
José usa o guardanapo, o resto, deixa voar com a brisa.
Nao lê os papeis voando.
José é calvo, sorri pouco.
José tambem chamava-se seu pai
José fica olhando para o guardanapo em branco, perdido em reflexões. Alguns papeis voam pela janela e continuam seu voo solitario por entre os predios da cidade barulhenta. Mas eles não ouvem o barulho.
Nem José.

E José foi então até a janela e notou que alguns dos seus papeis voavam pela janela afora. E ficou ali parado olhando por um tempão contemplando. Sem nenhum outro movimento, nem mesmo os pés. A beleza dos papéis ao vento. Ele se deixou levar e nem se deu conta da importância desses guardanapos, papéis, árvores, tantas árvores, poucos papéis.
José fez o seu papel, pena que voaram.
José jurou ao pé da árvore.
José não plantou aquela árvore.
José chorou.


O planeta do José, o gosto amargo da tarde na cidade, o céu laranja.
José e o cinza.
José é normal, passageiro da via, vazia, da vida sem asas, de papéis brancos sem linhas.
José mergulha, tudo azul marinho.

José se lembra dos dias de juventude.
José se lembra daqueles sonhos.
Os sonhos guardados no armário da alma de José. E um dos sonhos de José era viajar numa motocicleta. Tal qual os papéis, José voa pelas ruas.
Afrouxa a gravata. Correndo em direção a uma revenda de motos. Após algumas quadras, ele para e a vê. Estava alí, parada, um de seus sonhos de juventude. Sonhos que voaram.

José voltou quatro quadras.
José entrou no prédio
José entrou no elevador.
José entrou em sua sala.
Sentou.
José ligou o computador.
José sorriu de leve para um número.
José parou.
José, você não pode.
José girou na cadeira, como numa roleta.
José foi parando. E parou.


Olhe José, você não deve seguir pela vida, pela via, pela rua vazia. São almas José, são gente, são tão diferentes.

José abaixa a cabeça, leva as mãos ao rosto. Pobre josé, chora copiosamente até sua camisa ficar molhada mas a tristeza não passa.
José abre a janela e olha pra o horizonte de prédios. Muitas pessoas, muitos sonhos, muitos papéis para representar, muitos papéis que voam.
José fecha os olhos e salta pela janela. Seu corpo vai voando e vão voando os papéis que representou, voando para céu e levados pelo vento.

Sueli, Youkai, Emilia, Alexandre, e Sergio
.

4 comentários:

  1. Belo!!!(íssimo)

    Parabéns a todos (nós):-
    Josés ao vento,rua vazia!.

    abs

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  2. Trilha sonora sugerida ^^
    http://www.youtube.com/watch?v=v_102h9-GW8&feature=related
    XD

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  3. Viva mais uma vez !
    e também pra José !

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  4. Caramba...

    Ficou muito show esse texto...
    Inacreditavel...
    Simplismente, muito legal..
    abs!

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