quarta-feira, 24 de junho de 2009
o nome do peixe
O dia estava esplendido e da janela do ônibus podia ver nas ondas gordas, exatas, os tubos se formando perfeitos rolando centenas de metros até explodirem na areia alva e fina. Não pude resistir e apesar do paletó, gravata, a obvia farda de bancário dos pés à cabeça, desci do buzu...
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com o coração acelerado e, com imensa euforia, olhei para um lado, depois para o outro, com medo que alguém pudesse peceber estado taõ alterado,afinal não é sempre que se tem uma atitude dessa, ainda mais...
ResponderExcluirvestido daquela forma. Pensariam que era uma tentativa de suicídio.
ResponderExcluire foi exatamente o que ocorreu,numa fração de segundos uma multidaão a minha volta.
ResponderExcluirapesar de constrangido gostei afinal não é sempre...ainda mais..
que uma equipe de reportagem da TV Globo se aproximou e o repórter me enfiou o microfone na cara e perguntou sem qualquer preâmbulo, sequer sem me perguntar o nome:
ResponderExcluir-- Foi o senhor que ligou informando que havia um hipopótamo surfando nesta praia?
sim, eu liguei,mas não foi exatamente pelo surf que aprecio muito, mas pela falta de decoro desse animal,digo de sua companheira.
ResponderExcluirComo assim perguntou-me o repórter?
olhe o ser mesmo respondi,não é uma escandalosa,
afinal...
considero no mínimo uma indecência que uma girafa venha de topless a uma praia tão movimentada e principalmente neste horário da manhã, quando é freqüentada sobretudo por babás, avós e jovens mamães que trazem as crianças para banharem-se ao sol.
ResponderExcluirSurpreendentemente, a equipe de reportagem da TV Globo já não tinha interesse por mim, nem pelo casal fenomenal que naquele instante trocava beijos lascivos.
Acompanhada do séqüito humano, a equipe vencia as ondas, primeiro correndo e, com água na cintura, nadando loucamente na direção de um cardume
e eu não deixei por menos, segui junto.
ResponderExcluirafinal não é sempre...ainda mais...
não é sempre que se apresenta a oportunidade de ver peixes se afogando. Eu mesmo nunca sequer imaginara que havia peixes que não sabem nadar.
ResponderExcluirEra um fato tão inusitado que ninguém notava que eu caminhava sobre o mar vestido a rigor. Todas as atenções se voltavam para o cardume, mais particularmente para um peixe que parecia ser o líder. Usava cartola, óculos escuros, relógio de algibeira e quando sorria cintilava um dente de ouro.
A uma pergunta do repórter, que eu não consegui ouvir porque o pobre coitado tinha nacos de sargaço entupindo-lhe a garganta, ele respondeu como se estivesse fazendo um discurso solene para a nação:
- Esta crise não é minha. É do cardume.
Da praia eu podia ouvir a platéia dividida entre os que vaiavam e os que aplaudiam e uma voz feminina gritou:
- Como é o nome do peixe?
as vaias foram diminuindo...diminuindo e,como num passe de mágica havia uma só voz em coro gritando:
ResponderExcluirComo é o nome do peixe?
O peixe da frente do cardume que até então preocupava-se exclusivamente em perseguir um plancton suculento pôs a cabeça pra fora da agua e disse:
ResponderExcluir– Meu nome é Gumercindo Ictius de Oliveira. Mas por que perguntam vcs estranhas criaturas secas com pelinhos no topo da cabeça e que respiram ar por orificios no rosto?
perguntar é da nossa natureza,
ResponderExcluirvai responde, vai responde, vai responde , ressp onde, onde, res.
e naquele dia esplêndido em que da janela avistei, extasiado, as gordas ondas,em que afrouxei o nó da gravata, dia o qual numa atitude, deliciosamente, impensada desci do ônibus.
ResponderExcluirNaquele dia, minha pergunta ecoou mar afora,vi Gumercindo ir embora, fique feliz mesmo sem reposta,
..afinal não é sempre que se tem uma atitude dessas, ainda mais
FIM
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