domingo, 30 de janeiro de 2011

Uma tarde ordinária


Seria imensamente grafificante ver todo mundo reunido. Seria ainda mais gratificante se estivesse vendo todo mundo reunido por um telescópio. Metade eu não via ha quase vinte anos. Menos cabelos mais rugas mas os olhos não envelhecem jamais.

A porta abriu. Entra um homem. Senta-se e fica olhando para o canto do teto. Cada vez que a porta abria dava pra ouvir o carnaval na rua. Mas ai ela fechava e voltava o ar mudo, o silencio tumular.

Atras da parede de madeira alguem puxou uma descarga, uma porta rangeu. Alguns passos pelo corredor de madeira terminaram numa batida de porta, lenta e pesada. Entreolham-se os olhares. Espera. Tosse. Sorriso. Silencio. Mas ai todos se viram para uma mulher que se levanta e diz:
-

Existindo!



Da janela de onde estava até a colina mais proxima deveria conter a distancia necessaria para se voltar ao ponto de partida. Podia ser um pouco menos, não sei. Fiquei dentro deste espaço por tanto tempo que as distancias parecem mais voláteis do que a fisica permitiria.


Logo de manhã a morte parecia mais uma grande colecionadora de folhas secas, coletora de cascas sem vida que outrora rompiam em descontrolados risos pelos salões. Resta apenas a lembrança. Mas onde vai morar finalmente esta lembrança? Talvez em algum lugar bem escondido do mundo. Apenas as nuvens movem-se. Em estado de perplexidade experimento as sensações do ar. Penso estar voando mas não me movo. Nada se move.


Olhei em torno mais uma vez e percebi a distância entre todas as coisas: da janela ao sonho, das sensações ao espanto, do movimento ao repouso. Distância encantatória entre o sentir e o dizer, o estar no mundo e fora dele, poderia eu simplesmente me desconectar, perder o interesse, mergulhar, afogar, voar, simplesmente plainar, nadar no ar e chorar... mas não. Acordei e percebi alegremente que meu interesse todo está em olhar. Ver e ser.


Olhei o alto e o baixo, o branco e o preto, a gravata e o paleto, a letra e a melodia, o dentro e o fora. Olhei e re-olhei a retrospectiva dimensional absoluta de meu ser para integra-la ao todo onde tudo possivel. So o que faltou foi tempo. 
O tempo, é o fogo onde todos nós ardemos.


Suely Aduan, Emilia e Cajado