sábado, 23 de janeiro de 2010

Tempus Fugit

Saciada a sua ira e satisfeito o seu ódio Beatriz observava seus pés e a chuva mansa que caia. Os pingos na vidraça do quarto era o único som existente. A mudança de humor, a observância desses pés e os movimentos de seu corpo era tudo o que tinha.
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Figura delicada, boca perfeita e usando um elegante chapéu, Camille a esperou de braços abertos. A lua iluminava-lhe o semblante e ela sorria. Um sorriso de boneca ou da boca que se alarga e toma conta do rosto inteiro. Beatriz nunca descobriu, e a bem da verdade, chegou a pensar que não era nenhum nem outro. Era só e unicamente o brilho que Camille possuía e que tanto lhe incomodava. Tornaram-se inimigas no mesmo instante em que seus olhos se cruzaram. Foi a beleza desse olhar que levou Beatriz à destruir sua própria vida, por ciúmes.
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Já havia 15 anos desde o acontecido, foi na época do colégio. Ninguém entendeu o fato e nada ficou esclarecido nem mesmo a polícia local, tão eficiente, conseguiu desvendar tamanho mistério.Apenas algumas suposições, hipotéses.
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Foi quando encontraram um retrato, antigo, desbotado com a força que o tempo exerceu sobre ele. Era o retrato de dua meninas abraçadas. No chão havia uma boneca sem cabeça e podia se ver tambem a sombra do fotografo. Atras da foto estava escrito:

Tempus Fugit.

Tal menção não é algo que se lê todos os dias. Intrigado o Detetive Parkinson procurou saber sobre o significado para ver se achava algo mais sólido do que apenas o significado das palavras em sí. Foi quando a porta se abriu e um padre apareceu trazendo amarrado a uma cordinha uma ovelha.

Ele olhou para o relogio e disse:

- O tempo passa.

Parkinson começou a tremer. O padre lhe perguntou:

- Posso ajudar detetive? Franzindo a testa, com os olhos cheios de raiva e tremendo ainda mais, Parkinson respondeu:

- Não dessa vez, padre. A intimidade dos dois não passou despercebida aos outros políciais presentes. Quanto a ovelha, que já se acostumara ao som das palavras, à benção do seu vigário, assustada correu, mas não antes de derrubar o retrato deixando a mostra uma caixa de porcelana, que segundo Beatriz guardava o segredo do encanto de Camille. O encanto que lhe roubara a felicidade. Mas nessa epoca, 15 anos atras, nada disso era conhecido e por um capricho do destino, talvez nunca venha a ser.

Derrepente o detetive Parkinson tremendo agora compulsivamente, perdeu as forças nas pernas e caiu sentado no chão. O padre prontamente se ajoelhou para ajuda-lo. Sussurrou em seu ouvido umas poucas palavras que ambos conheciam. Parkinson agarrou-se ao terço que o padre trazia junto as mãos e naquele momento tudo veio-lhe à mente; o retrato, a caixinha de porcelena, Camille e Beatriz com sua doce voz cantando uma velha ladainha que dizia coisas de um mundo passado. Lembrou-se de sua infancia abstrata sem amor, sem amigos. Começou a chorar

Neste instante o padre atonito por tal cena arranca-lhe o terço das mãos e lhe dá uma tremenda bofetada. A ovelha começa a balir. Os olhos de Parkinson rodam em suas orbitas enquanto as lembranças revoam inusitadas em sua mente. Quinze anos desembrulham-se então e esparraman-se pela sala. Tudo foi se juntando durante os anos para explodir naquele momento. Ainda agarrado a batina do padre, o detetive confessa:

- Sim padre, fui eu, fui eu, eu que as matei, eu insuflei todo o ciumes, eu fui o causador da tragedia! Ha anos carrego esta culpa, nada pude fazer, mas no fundo sou culpado.

- Não diga asneiras Parkinson, vc era apenas uma criança na epoca. Componha-se, sei que você as amava mas essa triste fatalidade nada tem a ver com vc. Vc nem existia para elas, não pode se sentir culpado por arrancar a cabeça de uma boneca. Bom, eu te absolvo.

Parkinson abaixou-se lentamente e pegou a foto do chão. Olhou o verso do retrato e finalmente entendeu. Incrivelmente o padre estava certo. O tempo havia passado.

Tempus Fugit.

written by Sueli Aduan, Tina, Katia Mota, Sergio Cajado, Leo Metallica, Youkai



segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Virá impávido...Virá que eu vi



Um índio preservado em pleno corpo físico Em todo sólido, todo gás e todo líquido.
Em átomos, palavras, alma, cor, em gesto e cheiro. Em sombra, em luz, em som magnífico. Num ponto eqüidistante entre o Atlântico e o Pacífico. Do objeto, sim, resplandecente descerá o índio. E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer. Assim, de um modo explícito. E aquilo que nesse momento se revelará aos povos Surpreenderá a todos, não por ser exótico Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto. Quando terá sido o óbvio.

Caetano


Eu disse com a voz mais suave e delicada que consegui, mas mesmo assim não pude evitar os olhos de espanto dos que estavam a minha volta. Olhares de desconfiança de uns, de zombaria de outros, e de... Ah! Não importa. Eram muitos e muitos os que ali estavam reunidos. E a bem da verdade, eu não estava nem um pouco preocupada em poupá-los de nada, não. A voz suave foi só uma maneira que encontrei por conta da minha própria profissão e de conhecimentos específicos a ela pertencentes. Eu sabia, mais cedo ou mais tarde todos, sem exceção, perceberiam que não estamos falando a mesma língua.

Após dizer tudo que estava atravessado em minha garganta, feito um bolo enorme me sufocando, enfrentei os olhares que se entrecruzavam.Até que o impacto visto por esse ângulo de expectador era engraçado. Mas, não era mais eu ali, parado olhando o ser olhado de toda essa gente, embasbacada em sua babaquice moral, seus credos, mitos, tabus e toda essa porcariada que segura a gente num plano rastejante.

Olhei novamente para cima e depois disse novamente olhando no fundo de suas almas perdidas:

- Não estamos sós.

Poucas coisas me embrulhavam mais o estomago do que este jeitão arrogante de coletivo prepotente, esse aceitar valores impostos sem questionar méritos, coerências ou critérios, incorporar sua intolerância doutrinária, negar o desconhecido com a certeza dos justos e impor a rigidez da ignorância. Mas o fato não poderia mais ser ignorado. Alan a meu lado foi tirando seus óculos lentamente, uma estranha luminosidade que começava a emanar de seu corpo foi calando os comentários do publico um a um.

À medida que iam percebendo o aumento da luz iam também abrindo suas bocas quase babando, talvez para absorver com mais sentidos aquele fato incomum.

Depois de por os óculos no bolso começou a desabotoar sua camisa e em seu peito pode-se ver que Alan não pertencia a este mundo. Em seu tórax havia um espaço vazio onde deveriam estar o coração os pulmões e as costelas. Não era um furo, seria mais um buraco perfeitamente redondo, recoberto com bom tecido humano. Neste buraco haviam cordas parecidas com a de um instrumento musical fazendo lembrar a boca da caixa de um violão. As cinco cordas com diferentes colorações faziam parte de sua fisiologia. Quando começou a falar suas cores e sua luminosidade aumentaram. Ninguém ousava falar uma silaba sequer.

Alan disse então:
-Sei que nesse primeiro momento não podem compreender e o silêncio tomará conta de todos. Nenhuma palavra, nenhum som, gemido, nada. Mas em pouquíssimo tempo, uma alta freqüência de ressonância e pequenas oscilações no corpo físico permitirão somente o uso de palavras que representem uma idéia, que não seja apenas um código aleatório.

E, então, não mais na contramão do mundo, como num quadro poético tinta e verbo colorindo as ações dos homens. Todos nos percebíamos a existência um elo, pois tínhamos aquela mesma luminosidade interior, o mesmo bolo entalado na garganta, a mesma afinação. Vibrações dentro de um mesmo tom. Todavia, não sabíamos até aquele momento que tínhamos uma historia e um passado em comum.

Esquecido há muitos e muitos anos e com ele a percepção exata de quem realmente somos e do quanto podemos.

Alan estava ali, justamente, para nos mostrar como nos unir, como dar força ao nosso coletivo adormecido, aquilo que nos transforma em seres humanos, herdeiros da luz.
E foi ai que sentimos.

Somos apenas um, com múltiplas personalidades e infinitos quereres.

Kátia Mota, Cajadomatic, Sueli Aduan, Placco Araújo, Claudia

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Olhares


Eu disse com a voz mais suave e delicada que consegui, mas mesmo assim não pude evitar os olhos de espanto dos que estavam a minha volta. Olhares de desconfiança de uns, de zombaria de outros, e de... Ah! Não importa. Eram muitos e muitos os que ali estavam reunidos. E a bem da verdade, eu não estava nem um pouco preocupada em poupá-los de nada, não. A voz suave foi só uma maneira que encontrei por conta da minha própria profissão e de conhecimentos específicos a ela pertencentes. Eu sabia, mais cedo ou mais tarde todos, sem exceção, perceberiam que não estamos...