domingo, 12 de julho de 2009

A Caixa

Varios autores, um mais tantã que o outro

Eu não podia imaginar que fosse possivel alguém me reconhecer com aquela roupa, aquela imensa caixa nas mãos que quase cobria meu rosto todo. Mas foi exatamente o que aconteceu. Ao escutar o chamado não olhei pra trás e nem podia mesmo, como explicar minha presença ali, a caixa e tudo mais... Mas explicar para que? Já tinha sido visto, já tinha sido reconhecido, o jeito era carregar aquela caixa com a naturalidade de quem segura um saco de pão.
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Com um certo temor segui, mas a curiosidade falou mais alto queria saber quem havia gritado meu nome, virei rapidamente espantado. Hesitei por alguns segundos em atender a voz insistente. Sentia sua aproximação até que me alcançou de perto os ouvidos. No ombro esquerdo o peso daquela mão me deteve. Assustado como uma criança pega em flagrante roubando um doce me virei. Uma senhora de tez rosada e afável disse-me:

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– Desculpa, senhor! Mas seus óculos caíram no chão. Susto passado (ato contínuo) peguei os óculos rapidamente, mas aquela imagem não me era estanha. Com voz nervosa, tentando controlar a respiração ofegante eu disse:
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– Inexplicável. Interessante. E entre um risinho e outro contemplei o totalmente inexplicável, tanto quanto essa caixa que levo comigo. A senhora arregalou os olhos e disse:

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– O que leva aí, assim tão absorto a ponto de perder os óculos e não sentir o embaçamento típico da falta das lentes? assim a queima roupa a pergunta desorientou-me, fiquei totalmente sem ação, sem voz. Não estava em meus planos abrir-me, contar à alguem meu segredo, era preciso sentir-me seguro. Uma vez que sem oculos enxergo tao bem como uma topeira, disfarcei um pouco e pigarreei. Nao que isso fosse fazer alguma diferença pois pigarreear so alivia nossa consciencia mas nao remenda nossas ações absurdas. Resolvi responder tão espontaneamente quanto possivel.
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– Levo uma caixa, mas por favor não me pergunte o que contem. Meu oculos embaçou ainda mais, mal conseguia enxergar por entre as gotinhas coladas no vidro. Sentia-me num fusca em dia de chuva. Ela insistiu:
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– Sei que não é de minha conta mas essa caixa gigantesca é um tanto suspeita.

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– Olhe, disse eu, aqui nesta caixa tem um urso chamado Zé que gosta de velhinhas simpaticas ao sugo. Ele é um tanto feroz porisso mantenho-o na caixa. Vou deixa-la aqui por um momento enquanto vou ao toilete pois urge a necessidade fisiologica que me impele, sem freios nem piedade. Não abra a caixa, ja volto. Entrei no salão e fiquei espiando para ver se ela ousaria espiar dentro do caixote. Quem diria aquela senhora!!! como a gente se engana, (tão sisuda) mas quem, quem conseguiria resistir a tamanha curiosidade? E ali do salão eu presenciei a cena, que por muito tempo iria me fazer rir. Que cena!
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Ao abrir a caixa, como supuz que iria fazer, ela soltou a tampa, deu um passo para traz e fez o sinal da cruz. Comecei a ter meu ataque de riso, pois era muito hilariante ve-la sob este espanto todo, eu havia avisado pra não olhar dentro da caixa.

Centenas de bolboletas sairam voando de dentro da caixa e a rodearam como um manto colorido em movimento. Ela tentava fechar a caixa mas elas continuavam a sair voando até não ficar mais nenhuma dentro. A senhora ficou desesperada, olhava para um lado e para o outro para ver se estava sendo observada. Claro que tava todo mundo olhando pra ela, estava parecendo um enorme pirulito de borboletas coloridas.

Derrepente meu riso foi se fechando. Se fechando. Meu coração foi lentamente descompassando, até que parou. Sim parou por milésimos de segundos, para o inexplicável vivído. Das costas da velhinha simpatica surgiram imensas asas prateadas. Olhei-a nos olhos em metamorfose e sorri.

Em sua nova leveza ela olhou para o céu e voou para as nuvens brancas.


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